Sobre a pressa (ou sobre morar em cidades pequenas)

Lá ia eu andando. Pensava na vida, no trabalho, na viagem, e na morte da bezerra. Pensava com pressa, andava com pressa, pois a vida pede pressa. Pede?

- Bom dia!

É um senhor sorridente e de careca brilhante que passa na calçada, direção oposta à minha. E que adentra simpaticamente na minha apressada bolha existencial.

- Bom dia - respondo

- Tá com pressa, rapaz?

E ele ri. Não de deboche, não de gozação. É uma risada de quem vê um corredor correndo quando a corrida já acabou e só o corredor, muito habituado a correr, não percebeu; e ainda acha que tá vencendo a corrida.

Fico envergonhado, baixo a cabeça, dou um sorriso encabulado. Estou com pressa?

Quando volto a olhar para a frente, sinto o cheiro de um sol úmido, ouço o vento cantando uma música bem suave e fresca.

Na outra calçada outro senhor dá bom dia a outra pessoa. E um carro, muito tranquilamente, diminui a velocidade para que um pedestre cruze a rua também muito tranquilamente. Em algum galho que não vejo, um pássaro pia algo que nunca escutei.

Ploc!, estoura a bolha, e os pulmões expiram a pressa cega e burra.