Crônica da aceitação

Num almoço de sábado, comendo alegremente na mesa, minha irmã , meu pai e eu. Falávamos das milhões de atividades extras da minha irmã, tais como equitação - da qual ela ganhou uma prova em 7º lugar- e circo.

Eis, que não sei como, o assunto em pauta tornou-se o corpo da minha irmã. Ela é uma criança de dez anos, muito ativa e com uma barriguinha saliente, ok.

Meu pai estava preocupado se minha irmã iria perder a tal barriga ou seria como eu, que não perdi.

Vamos parar um pouco esse relato e contar um pouco da minha história: eu fui uma criança gordinha. Não obesa , apenas acima do peso. Tinha a tal barriga , que sinceramente era bem maior do que a da minha irmã. Não gostava de praticar nenhum esporte, era mais das artes e do pensamento. Minha infância inteira passei com gente me falando que eu era gorda, das outras crianças se negando a brincar comigo porque eu era gorda , dos meus parentes regulando o que ou quanto comia porque eu era gorda, de fazer esportes que nunca gostei porque eu era gorda. Eram ataques a minha autoestima de todos os lugares, todos os dias, sem nenhum momento de descanso. Cresci uma adolescente gordinha, e o pior ,com baixa autoestima. Tive meu primeiro beijo com 16 anos, com um cara que eu sentia nojo só de olhar, porque tinha medo de ninguém mais me querer. Aos 17 anos me entreguei a alguém que me prometeu o céu, mas cavou ainda mais a minha cova. Não tinha confiança em mim mesma, não achava que merecia algo melhor, porque eu me considerava feia por ser gorda, achava meu rosto lindo, mas o corpo não. Então, eu emagreci, do nada, 20 quilos que saíram voando. As pessoas me elogiavam, queriam ficar perto de mim, me dar roupas, falar como eu estava saudável. Ano passado descobri que tenho diabetes tipo 1, emagreci por desidratação. Quando comecei o tratamento, cheguei ao meu peso ideal.

Minha irmã é só uma criança, não deveria ter que se preocupar com peso ou com a barriga. Sei que meu pai não faz por mau em incentivar que ela perca a barriga, é uma construção social dele, e compreendo que demora para se desconstruir.

Sofri muito até perceber que eu sou assim. Uma pessoa com 1,67 de altura, com 63 quilos, com ossos largos e pesados, que não gosta de fazer esportes, que gosta de comer e que se ama muito assim, porém ainda tem dias que me penalizo por conta de pressões passadas.

A mensagem que quero transmitir com esse texto é: tudo bem você ter barriga, tudo bem você estar acima do peso. Você é bonita assim, você deve se sentir bem como você é. Magreza não significa saúde. Ter barriga não é feio. Se ame como você é, se aceite.

Natália Faraldo
Enviado por Natália Faraldo em 29/05/2018
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