CREPÚSCULO

Se fecho os olhos estou no terceiro andar, no terraço... Posso ver o céu, posso ver os arranha céus, quase posso ver o mar também... Às vezes está de noite, às vezes está dia, e às vezes é só um crepúsculo... Um estranho crepúsculo que me angustia a alma, pois se assemelha muito ao do dia em que me despedi do pai do meu filho.

Naquela ocasião, um crepúsculo de adeus, mas que dizia que ele estava em paz e assim também queria que ficássemos. Não sei bem discernir agora, e perdoe-me a mente turva e a minguada intuição, mas naquele momento havia um sentimento de adeus e de paz, um descanso como resposta. Deste terraço um sentimento de adeus em vida.

E assim como o dia sai de cena para que a noite faça o seu papel, tenho a sensação, a eterna sensação de que nem um queria sair de cena e nem o outro entrar para fazer o seu papel. Ambos só queriam ser e permanecer, sem precisar desempenhar suas funções. Mas há outras vidas que dependem da luz do dia e outras da luz da noite.

Ambos tão importantes para os outros, e tão importantes um para outro, mas que nunca poderão atuar juntos. Sol e Lua não namoram... pelo menos não de perto. De longe, talvez imaginem a proeza. Desconfio que ao despertar, resplandecer, e acordar a muitos o dia só sonha... Arrisco dizer que a noite ao se recolher depois de embalar a muitos em suas camas, ela chora. Deu o descanso, mas ela mesma não descansa. Logo entristecida concluo, o dia que a tantos acorda, sonha. A noite que a tantos embala, não descansa.

O dia sonha em dormir com a noite, e a noite sonha em acordar com dia... Triste a constatação de que um só existe em decorrência da ausência do outro. Outras vidas estão em jogo... Muitas vidas dependem de ambos...

Talvez agora eu entenda a frase que um dia eu ouvi a noite dizer para o dia. Acho que agora faz algum sentido, o que não implica em me proporcionar algum alento por isso. Disse a noite para o dia: “Não vejo a gente ficando juntos, mas também não vejo a gente se separando”. Nem totalmente juntos, nem totalmente separados. Em silêncio surgiram, em silêncio se despedem...

Talvez nesta pequena duração de tempo deste crepúsculo, seja o tempo que se amem e que se dizem adeus. É encantador saber que o dia por si é lindo, e a noite por si é linda também, cada qual com suas belezas e particularidades. Mas um crepúsculo... ah um crepúsculo... Não há quem olhe pra ele e não diga que é lindo, que não pare para o admirar.

Os homens, as mulheres, as crianças, amam ver porque ainda lhes é oculto o segredo dos amores proibidos. Quando a noite roça os lábios no seio da face do dia, já que os seus lábios jamais terá o tempo necessário para tocar, o desejo aflora, e assim é que nasce o Crepúsculo. Quando olhar para o céu e ver um, lembre-se sempre! Ali são dois... Eternizados apenas no desejo, ali sou eu e ali é você.