Ainda é tempo...

Estava gozando férias em minha saudosa e querida Minas Gerais, e aproveitei para visitar a única Livraria que ainda tem meus livros pra vender, que, diga-se de passagem, tem 4 anos que pra lá enviei 12 exemplares e até hoje somente um exemplar foi vendido. Como sei disso? Eu conto.

Entrei na Livraria. Linda e enorme. Como um anônimo, disfarçado de mim mesmo, pois, ninguém me conhece, e nem reconheceriam aqueles que, por um descuido do acaso tivessem visto a orelha da capa do Livro, onde estou em uma foto 3x4 estampada e com um brevíssimo histórico. Sinceramente, até um conhecido que não me vê há pelo menos alguna poucos anos teria dificuldade de me reconhecer, pois como dizem em Minas, estou igual a prédio novo, bem acabado...

Dirigi-me a um atendente e perguntei sobre o livro e de pronto o jovem disse que não, mas me perguntou o nome do autor dizendo que faria uma consulta no computador. Esperei. “É escritor mineiro?” perguntou-me, e fui logo confirmando, pois tinha-me dito que havia uma seção específica para escritores mineiros. Pronto, encontrou! Ai fomos à caça...

Roda, anda, circula prateleiras e afinal encontramos, na última prateleira, próxima ao chão, o Livro Casos, Contos e Reflexões. O atendente pergunta-me se vou querer um e eu respondo que vou ver e ele se afasta deixando-me à vontade, indicando uma poltrona para que eu me sentasse enquanto apreciava e pensava se ia adquirir ou não tal livro. Sim, não me reconheceu... Não esperava mesmo... Abaixei e contei 11 livros e pensei: Ôba! Vendi um!

Procurei o Gerente da Livraria e indicaram-me duas pessoas, uma responsável pelo setor de papelaria e outro pelo setor de livros. Ao apresentar-me ao segundo, este fez menção de espanto e como se não acreditasse fez-me sacar rapidamente um exemplar do livro de minha bolsa – tinha levado mais dez para ver se precisaria de reposição, afinal, estava sem notícias há três anos – mostrando-o meu nome e a foto. Feito o devido reconhecimento, sem deixar de permanecer a cara meio que de espanto do jovem responsável pelo setor de livros, propus anunciar pelos microfones da Papelaria que estava presente o autor mineiro do livro Casos, Contos e Reflexões e aqueles que se interessassem poderiam encontrá-lo para um papo no segundo piso, na lanchonete. Pensei ser uma boa jogada de Marketing pra ele, pois a Livraria contava com mais de trinta pessoas presentes naquele momento e pra mim seria também interessante.

Para minha surpresa o jovem disse-me que não poderia fazer e que não têm esse costume, uma vez que faz parte da política da empresa realizar esse tipo de atividade sim, mas aos sábados, devidamente agendado e com emissão de convites (mala direta) para aproximadamente 100 convidados, com uma média de 50% de presença, propondo-me o mês de março para realizar tal encontro, após a devida aprovação do conselho administrativo da Livraria. Disse-lhe de minha dificuldade por morar atualmente em Primavera do Leste, Mato Grosso, fato que inviabilizaria tal evento, reforçando a sugestão de percorrer a loja me apresentando aos clientes, agradecendo a preferência por comprarem naquele estabelecimento e ressaltando o apoio que tal empresa dedicava aos escritores iniciantes. Mais uma vez fui alvo de negativas.

Diante disso, na impossibilidade de tentar promover meu livro com o apoio da Livraria, saí pelo Shopping distribuindo meu livro para quem quisesse, autografando-o. O primeiro livro a ser doado foi dentro da própria Livraria, para uma jovem Senhora que lia e tomava um café à minha frente e os demais distribuí aleatoriamente nos três pisos do Shopping e se querem saber de um segredo, nem de graça consegui distribuir 10 livros de presente, sendo rechaçado de pronto várias vezes. Seis pessoas aceitaram a doação e uns poucos outros se negaram a receber o livro.

Pude perceber o quanto as pessoas têm medo das próprias pessoas e pensei: Até aonde vamos permitir que tal coisa aconteça? Um semelhante temendo o outro de tal forma a evitar qualquer tentativa de uma aproximação... E olha que eu estava trajado dentro dos ditames da sociedade para tal lugar, fato este nem sempre freqüente em meu dia a dia, haja vista ser mais do estilo despojado e bonachão.

Mas foi isso... E eu pergunto: Até quando viveremos assim? Não podemos nos isolar do resto do mundo. Precisamos mudar! Somos humanos, seres humanos. A racionalidade da emoção deve dar lugar à emotividade da razão e irmanados não sentiremos mais, no próximo, uma ameaça em potencial. Sim, precisamos mudar! Ainda é tempo...