O AZULÃO

Diariamente desfila ele pelas ruas do povoado, acompanhado das companheiras. Não há meter-se a besta para o lado dele ou das companheiras, é que ele, enfurecido, é capaz de avançar furiosamente contra pretenso agressor. Ele causa inveja aos da raça: andar elegante, faceiro, imponente, atrai moradores que, acotovelados à janela das casas, ficam de queixo caído diante de tanta beleza. O pelo macio reluz à luz solar, dá-se a impressão de que ele esteve em algum gabinete de beleza. Qual seria o xampu que tornava o pelo deste potente animal brilhoso? O olhar, às vezes, além do horizonte. Um dia, desgarra-se da boiada e começa escaramuçar na areia branca atrás da igrejinha. O bêbado resolve encarar o animal. A luta é feroz, que lembra o combate dos cristãos em pleno coliseu, tentando safar-se das garras afiadas dos leões. Dura minutos. Um corpo estirado no chão. Em dado momento da peleja, o azulão abarca o cabra por baixo dos vazios com afiados chifres, joga o sujeito para cima, dando a impressão ser um boneco de brinquedo. Felizmente o bêbado ainda respira aliviado, graças à intervenção do vaqueiro.

Certa feita, a cidadezinha amanhece curiosa, interrogativa, pois o touro azulão marcha rumo ao matadouro para o sacrifício, que não será em vão: alimentará muita gente. Corda bem grossa, cabo, preso aos chifres do gostosão, condu-lo à guilhotina, ou seja, à machadada no cabelouro. Gente por todos os lados, escorados em cercas de arame farpado. A cada urro do azulão, a cada rompante, a correria, temerosos todos de que o touro quebrasse o cabo e saísse em perseguição à multidão, semelhante a corrida de touros nas ruas de Madri. Haja homens para arrastar azulão até o cadafalso. Com machadada certeira, Luiz Brasilino deixa o touro estirado no chão cimentado do matadouro. E a multidão ouve o ronco de dor do zebu.