REFUGIADOS

Não é asilo econômico.

Não é fugir das perseguições e nem das guerras.

Guerras? O que são guerras?

Guerras são muitas. As coletivas. As individuais.

Dentre as individuais surge a mais cruel. Aquela que, sorrateiramente e munida das mais variadas circunstâncias, trava um bombardeio de questionamentos internos.

É pura mente, não puramente. O campo de batalha é mental. O pior deles.

Já não é mais o dia “D”. É a semana “D”. É o ano “D”.

As “tropas” da ingratidão surgem armadas até os dentes na nossa pequena “Normandia” da vida. Tentamos, nos bunkers improvisados a nos proteger das investidas, mas nossa energia e munição jazem poucas.

Assistimos o desembarcar das tropas a lançar granadas de desagradecimento. Seus estilhaços ferem a nossa alma. Ficamos atônitos. Muito pouco a se fazer.

Batemos em retirada. Recuo estratégico não mais cabe. Recuaremos de vez, mas não nos renderemos.

Foi uma longa jornada.

Os tempos mudaram. As cabeças são outras.

Sim. A velhice chegou. Lembro quando jovem eu sempre usara a expressão “É hora de subir a montanha”, fazendo referência talvez ao índio americano quando estava prestes a morrer. Não é o caso.

É hora do refúgio.

E assim é.

É bom pegar o barco, atravessar o mar do “pouco caso”, “dos panos velhos”, da “injustiça” e da “ingratidão”.

É bom atracar no porto, como refugiado, e ser amparado pelos longevos desconhecidos, de um país desconhecido.

Nosso maior orgulho é o de quê fazemos parte da história. Foi numa terra distante. Na memória.

Na nova terra a música toca conforme a nossa dança.

Nosso silêncio é mais filosófico do que as ideologias juvenis.

A nossa comunicação é muito pelos olhares, pois os gestos ficaram mais lentos. Não sabemos tudo, mas sabemos mais. É a nossa barganha.

Na nova terra predomina a política do sossego.

É um dia de cada vez.

Sem investimentos em longo prazo.

O desapego faz morada.

Ao atravessarmos o mar, veio escondida na bagagem a “solidão”. Ela é insistente. Temos que doutriná-la.

Somos refugiados sim. Na “New Land” o pedido de asilo está implícito. Não tem burocracia. É automático.

Bem vindo a terra não prometida.

Bem vindo à velhice. Terra de algumas aventuras e agruras.

Ficamos velhos, mas a vida ainda nos quer.

Clos