Tristeza

Quanta tristeza já semeei nessa vida? Não sei se vingaram as almas que cortei com meu ancinho, meu ódio, meu amor. Sou o menino do dedo negro, tudo em que encosto apodrece. Se sei disso é minha culpa, se vejo antes todas as fraquezas recaindo sobre mim, todas as dores de quem me busca. Eu as filtro, destilo, condenso e devolvo em veneno. E mato. Tenho um cemitério particular de sonhos enterrados pelo meu caminho. Sou o menino do dedo negro e faço florescer o desprezo, a mágoa, a desilusão. Não é por querer, nem é questão de tentar ser outra coisa; não posso, simplesmente é o que me foi dado nessa breve vida: o dom de decepar as flores com os olhos, de espremer a inocência com as mãos, de afogar a esperança no poço infinito dos meus desejos. Sou o menino do dedo negro e logo não estou mais aqui.