ARTES E AS VAIDADES

Em todas as artes tem esse grave problema, A VAIDADE, isso se dá porque a arte é um tipo de droga que vai direto ao ego, então as pessoas se acham melhores que as demais, mais profissional, aliás essa é a palavra mágica para um vaidoso no teatro, o indivíduo se sente o máximo, então os demais são amadores, pobre gente tola!!!

A arte do teatro embora tenha nascido entre os bêbados de Baco, tornou-se um sacerdócio, onde o artista precisa dá a vida em troca dos poucos momentos de aplausos, uma matéria aqui e ali, um misero cachê de fome, mas o individuo se olha no espelho e se acha escolhido por Deus, os artistas precisam muito de crescimento interno, para aprender a lidar com esse trabalho que nada mais é que um trabalho como outro qualquer, se fez sucesso, foi bem de público, não fez mais que sua obrigação, se foi mal, vai amargar o prejuízo sozinho. Todo o glamour acaba se o pobre artista erra em cena, se sua voz falha, se erra a marcação, se esquece o texto, se canta na nota errada, pobre de nós! A cada vez que subo no palco para participar do coro de uma ópera, fico torcendo para que nossos colegas solistas tenham saúde, para chegar ao fim sem erros, somos humanos, nosso corpo falha as vezes, mas em cena isso não pode acontecer.

Aqui no Brasil principalmente onde a arte é renegada a último plano, os artistas precisavam ser mais conscientes da importância da união, da mútua ajuda, mas ao contrário, a vaidade nos segrega em guetos, quase invisíveis, onde construímos o quê podemos fazer dentro da falta de tudo, nossos próprios colegas ficam torcendo para as coisas não darem certo, sei de casos de atrizes que davam nós nas meias das colegas entre uma cena e outra, quando a troca de roupa tem que ser rápida, bailarinas que puseram alfinetes nas sapatilhas de ponta das colegas solistas, para entrarem no lugar delas, parece mentira, mas quem me contou esses fatos foram colegas artistas que estão há anos nos camarins e nos palcos...

Ao longo do tempo vemos que esses momentos são apenas ossos do oficio, podemos observar artistas famosos no passado, hoje vivendo da caridade alheia nos retiros ou em casa de parentes, todo o glamour hoje não significa mais nada, os mais jovens nem o reconhece, fico imaginando como aquele individuo vaidoso, PROFISSIONAL, se sente quando se vê diante do espelho, idoso como todos os contemporâneos. Olhamos para seu olhar e vemos uma pessoa triste, desiludida, como todo viciado em abstinência eterna, precisando de mais uma dose, mas a vida não permite mais, então aquele corpo que antes foi genial, tantos aplausos, reportagens, dinheiro, sexo, muitas vezes drogas, agora aguarda a visita da morte sem nenhum glamour, com muita dor, se sentindo o maior injustiçado do mundo.

A arte é para poucos, aqueles que a vêem com respeito, como uma ferramenta pedagógica de Deus, nós os artista somos apenas operários dedicados, com alguma especificação, nada mais além disso. Todo o resto é ilusão, que o tempo se encarregará de desfazer. então se tivermos um corpo preservado, poderemos fazer artes até o fim da vida, mas sem vaidades, sabendo que todo o sucesso é ilusório e passageiro. No fim somos nós e o travesseiro dos hotéis da vida, em lugares que nem conhecemos, pois entre uma espetáculo e outro perdemos a noção de tempo e espaço, quem faz turnê pelas estradas do Brasil, sabe bem o quê estou falando, acordamos em um lugar, dormimos em outro, entramos e saímos de teatros, vamos as tvs e rádios dar entrevistas para divulgar o espetáculo, mas isso já não tem a menor importância, porque estamos tão distantes de casa, ninguém naquele lugar é importante pra gente se fazer mostrar, então ninguém quer ir, mas como está no contrato, temos que ir. Vida de artista é isso, as mulheres não têm direito a sentir cólicas menstruais, dor de cabeça, todas as noites vão entrar em cena e dar seu recado, acho que por isso a maioria dos artistas acabam se envolvendo com algum tipo de droga, quando descobrem que no momento que está em cena sozinhos, o mundo pára, tudo depende apenas dele.

Já vi muitos colegas cheirando cocaína antes de entrar em cena, fumando maconha nos quartos dos hotéis, com toalha molhada torcida em baixo da porta, janelas fechadas, e bom ar quando terminavam, depois faziam o espetáculo sem esquecer o texto, ou a letra da música, na época da ditadura então a maconha comia solta...

Me orgulho de ter sido a diferente, ter passado anos com eles, meus irmãos queridos e amados! Nunca ter tido a menor vontade de provar qualquer uma dessas drogas. Acho que a droga dos palcos já é suficiente, assim como o sexo, ambos têm um sabor mais intenso se estamos sóbrios.

Se nos despimos da vaidade, das drogas, podemos chegar mais perto de paco na sua plenitude. O dia que as vaidades forem superadas por nossos artistas, a arte fará uma revolução na humanidade, assim como a educação. Não haverá politica que a destruirá, porque ela nasceu nos celeiros de Constantin Stanislavski, nas carroças das ruas dos séculos passados, ela era do povo e para eles, só depois entrou nos grandes prédios, nos palácios, a nossa arte nasceu dos cânticos passados de boca em boca, porque não havia ainda as letras para registrá-las, a arte nasceu junto com os homens da caverna, que já sentiam necessidade de registra sua existência nas paredes de pedra. Então se você é um artista não se deixe enganar com a vaidade, faça seu trabalho com amor, como um bom amador, mesmo sendo o mais bem pago profissional do mercado, assim todos ganharemos com o seu talento dados por Deus.