Atrás da cortina do carnaval 2007 de Salvador

Nobres Membros do Egrégio COPOM,

Estive no circuito Barra-Ondina, mais precisamente Ondina, apenas um dia, para apreciar a folia. Triste fim. O desejo de voltar à beira da praia era tamanho. Contemplar a natureza, o pôr-do-sol e o descanso temporário era uma necessidade maior.

É nefasta a ideologia pregada nas camadas populares, ensejando a mentira de que tudo anda bem, a alegria comprada com muitos míseros salários e vastos dias de trabalho durante o ano, o esquecimento dos problemas sociais, a banalização dos conceitos religiosos e os maléficos dotes de prostituição desenfreada, além da inércia mental em poder detectar pequeninas castas que abastecem seus bolsos à vã inocência de um povo sofrido e inaculturado.

Sei, Membros do COPOM¹, que a folia não se limita aos desafortunados, mas há também a ala dos aristocratas, para quem a folia, cada vez mais, pretende abastecer com seus produtos momentâneos.

É, sim, nobres Membros, perversa a atitude de alguns poucos que incultem na memória denegrada de um povo a necessidade de "pular" o carnaval, entregando a seus afiliados o "circo" tão necessitado.

Mas eu estava lá; na tentativa de me distrair. Pude ver, in loco, o sorriso de tantos, porém, por outro lado, a amargura de muitas crianças e velhos à procura de um "trocado", catando latinhas de refrigerantes e cervejas já utilizadas e desprezadas pelos seus usuários. Esses, acredito, não estavam alí à busca da diversão, mas, sim, da luta renhida pela sobrevivência, brigando com unhas, garras e dentes contra o capitalismo selvagem que nutre de vitaminas alguns poucos beneficiados.

Vi e ouvir cantigas inúties e vociferadas com orgulho pelos seus criadores e seguidores mil.

E há ainda aqueles que se submetem a tamanha clausura na festa, abdicando do convívio familiar e de alimentação adequada, cujo intuito é viver insanamente as guloseimas do carnaval.

E, ainda, persistente – não se deve negar - é a imprensa, que não se cansa em veicular a venda do carnaval além-mar, propagando vorazmente a imagem de artistas, políticos e empresários.

Por fim, meus Nobres, sou feliz por aqui estar, na companhia de Vossa Excelências, desenhando através das letras, meu manifesto contra uma insígnia desse sistema malvado que norteia a humanidade. Sou feliz, porque pude, após derramar sangue, suor e lágrimas, estar aqui proseando palavras que o imenso povo não aplaudiria.

E sei que os notórios Membros do COPOM irão analisar filosoficamente as palavras aqui delineadas.

É o meu sentimento.

Vida longa ao estatuto do COPOM e a seus Membros instituidores.

¹ COPOM refere-se a uma reunião confraternal composta por amigos íntimos e realizada às noites de quartas-feiras na cidade de Alagoinhas-BA. A pauta da reunião visa a discutir assuntos relevantes do nosso cotidiano sócio-político