CIÚME EXCESSIVO NÃO É AMOR

Sempre quis fazer um texto sobre ciúme. Não só sobre ciúme, na verdade, mas sobre ciúme excessivo. O que pode ser algo mais impactante e destrutivo.

Uma vez vi um filme francês, chamado Ciúme - O inferno do amor possessivo, de 1994 (vi que tem outro filme francês de mesmo nome, que data de 2013). E lembro que o filme era sufocante, dava um nó na garganta, uma agonia. Assisti ao filme com uma namorada e ficamos falando muito sobre a paranoia da cabeça do cara que se matava de ciúmes pela mulher, desconfiando dela o tempo todo.

Essa mesma namorada encontrei recentemente em minha viagem a Belém e conversamos muito. Ela é uma das minhas grandes amigas nessa vida. E uma hora, a gente falando sobre questões de relacionamento, ela perguntou se foi ciumenta comigo. Eu disse que não lembrava, mas achava que não. Uma coisa me lembro desse meu relacionamento que foi o seguinte: eu havia tido um término com ela e soube que ela saiu para jantar com um amigo. Eu fiquei mal, imaginando coisas. E disse a ela em uma oportunidade.

- Pô, você foi jantar com o seu amigo justo nesse momento em que estamos terminados… Ou seja, estavam a sós, jantando.

E ela, calmamente, respondeu-me:

- Você há de convir que se eu fosse fazer alguma coisa, seria a qualquer hora do dia, né? Não precisa ser depois de um jantar.

Aquilo foi meio que uma frase certeira na minha cara de babaca (risos). E aprendi mesmo sobre confiança e respeito pela relação.

Falo sobre ciúme porque tem sempre uma mística sobre o tema. Uns dizem: “Ah, o ciúme é o perfume do amor”. Ou “Um pouquinho de ciúme cai bem”. Ok, se for um ciúme como um certo zelo disfarçado, de quem quer delimitar o seu espaço. Aquele ciúme bobinho que implica com a roupa que a pessoa está usando ou, hoje em dia, uma foto nas redes sociais. Ou seja, uns ciúmes toleráveis até.

Eu acho que já tive um pouco de ciúme. Um pouco!!! Porque, depois de um relacionamento punk nesse quesito, posso dizer que fiz uma faculdade com pós-graduação e doutorado no assunto! Uma ex minha não era ciumenta, ela era o próprio ciúme. Tinha atitudes que nunca entendi na vida. E levei um tempo remoendo os acontecimentos relativos a isso, procurando entender porque ela agia de tal maneira.

Esse namoro já começou, digamos assim, meio complicado, porque ela tinha um namorado de anos, mas acabamos nos aproximando e nos apaixonando. Ela terminou com o namorado para ficar comigo. Na época, ficamos tão felizes que não refleti muito sobre. Hoje em dia, por tudo que eu acredito e defendo, e pela questão da energia que trocamos entre as pessoas e também atraímos, acho que hoje não gostaria de ter um relacionamento, começando desse modo. Apesar de saber que pode acontecer. Porque eu estava feliz com a pessoa, mas tinha alguém sofrendo muito por ela. Olha que coisa! Hoje mando um abraço cósmico para essa pessoa, porque imagino o quanto ele deve ter me odiado.

Seguimos nosso namoro na boa, muito felizes até. Em poucos meses aconteceu a primeira coisa bizarra (como me arrependo de não ter cortado logo isso). Eu fui convidado para fazer uma apresentação de última hora em um espaço em Botafogo. Fui ver um show de uns amigos e a produtora me convidou para eu fazer uma cena. Eu topei. Mas fiquei tenso, nervoso. Eu não tinha nenhum número pronto na época. E eu estava sentado e não parava de virar o rosto, esperando o sinal da produtoral, avisando da hora da minha participação. Em um dado momento, minha namorada fica muito aborrecida e diz que eu estava paquerando uma garota que estava ao fundo da plateia. Eu, sem entender, protestava: - Que garota? Cê tá louca?

Fiz a apresentação e ela ainda continuou fazendo cena, dizendo que eu estava mesmo paquerando a garota. E eu nem sabia de qual garota ela falava. Saímos do espaço, discutindo muito, e fomos até uma lanchonete. Eu não sabia mais o que fazer. Até que uma hora me veio um clique. Ela disse que a garota estava no fundo. Foi quando eu me toquei: - Cara, vou te dizer uma coisa muito importante. Você se esqueceu de algo básico: eu sou míope. Como posso paquerar alguém lá longe se não estou enxergando direito??? - ela não teve mais muito argumento.

Dormi aborrecidíssimo. No outro dia ela pediu mil desculpas, dizendo: “Não sei o que deu em mim!”. Eu aceitei e a vida seguiu (mas, infelizmente, não dei um basta naquela hora. E, ao longo do namoro, tiveram mais cenas semelhantes).

O certo é: ciúme excessivo não é amor. É fraqueza da pessoa, insegurança, paranoia. Essa minha ex criava cenas na sua cabeça como se fosse um Nelson Rodrigues. Quer dizer, acho que ela faria Nelson ficar corado.

A gente aceita, porque ama e finge que as coisas vão melhorar. Sei que se não cortamos no começo, a coisa tende a degringolar. E vem aquele sufoco, aquele nó na garganta, a cada crise de ciúme.

O mais louco é que, depois, pensando bem, eu que teria tudo para me sentir inseguro. Ela namorava um cara quando ficou comigo. Eu estava solteiro e desimpedido. E nem pensava em me envolver com alguém. Ou seja, eu poderia ficar pensando: “Cara, se ela ficou comigo, estando namorando, ela pode fazer o mesmo agora”. Mas não pensava nisso. E mais interessante ainda é que ela disse que traiu outras vezes o ex dela. Então, ela tinha uma paranoia surpreendente, porque dizia que sabia os esquemas que ela fazia e quando me via fazendo algo meio que parecido, alimentava uma desconfiança sem tamanho. Tipo, ela vinha até mim quando eu estava no computador e se eu abaixasse a tela, ela já mandava: “Por que você baixou a tela, justamente quando eu me aproximei? Aposto que está escondendo algo”. No começo, eu falava calmo: “Cara, você tá doida? Coincidiu apenas. Não pira”. Ainda desconfiada, ela dizia: “Sei…”. Aquilo era irritante. Mas aí ela - tão louca que era, ainda confessava: “Eu fazia exatamente isso com o meu ex”.´Ao que eu dizia: “Viu? Você fez tanto que agora acha que todo mundo também faz isso”.

O certo é que viver em uma relação onde o ciúme tem uma força enorme, é triste, desgastante, irritante. Ninguém merece passar por isso. Eu aceitei muita coisa, por amor. E me sentia mesmo culpado, como se eu fosse aquele cara que ela pintava. No ápice dessas crises, ela chegava com ironia: “Aquela sua amiga que mora aqui do lado… Duvido que vocês não ficam…” Veja bem, ela dizia: “DUVIDO QUE VOCÊS NÃO FICAM!”. Como eu estava de bom humor, ainda brincava: “Fulana, você quer que eu diga o quê? Do jeito que você fala, eu imagino a cena. Eu ligando pra vizinha aqui, dizendo: - Oi, Beltrana. Olha, minha namorada já saiu, vamos curtir uma tarde gostosa entre nós - isso é meio que patético, não?”.

Confesso que a coisa, às vezes, perdia a estribeira que, em muitos momentos, eu sentia vontade de chorar com tanto excesso de ciúme da parte dela. E dizia para os amigos: “Olha, minha relação é ótima. O que atrapalha e desgasta muito é o ciúme”. E os amigos diziam: “Você é muito ciumento?”. Eu respondia: “Não sou eu, é ela”.

Outras coisas bizarras aconteceram, como ela invadir as minhas contas nas redes sociais. E mais bizarro ainda foi saber como ela descobriu a minha senha. Estávamos na sala, como sempre, e eu fui usar meu computador. Estou tranquilamente entrando nas redes sociais e ela - a própria confessou - atrás de mim, olhando os meus dedos a digitar. Pegou minha senha assim. Acreditam??? Sur-re-al!!!!

O problema disso tudo é o trauma que fica. Depois desse relacionamento, qualquer pessoa que demonstrava um mínimo de ciúme eu já cortava na hora: “Chega, já vi esse filme, não quero mais. Tchau”. Fiquei com tolerância zero para ciúme. Porque não vejo sentido nessa possessividade excessiva. Converse, fale das suas fraquezas, mas não faça cenas de extrema paranoia por desconfiar até do fantasma de alguém! Isso gera um desgaste de difícil reparo. Ninguém é dono de ninguém. As relações existem para que possamos crescer nelas. Para que possamos respeitar o outro e dar espaço para que ele seja livre (no melhor sentido que essa palavra pode ter). Não é sufocando o outro com desconfianças que você vai prendê-lo. Pelo contrário! Isso só afasta mais a pessoa e até a empurra para um outro alguém.

Por exemplo, se você vai a uma festa sozinho, e sua namorada diz: “Divirta-se! Depois me conta tudo. Confio em você”. Isso é muito mais forte. Porque você vai estar na festa e, se, por ventura, se interessar por alguém, virá à tua mente: “Cara, ela confia em mim. Não vou trair essa confiança”. Agora, se, por outro lado a pessoa vier com tudo assim: “Olha, você sozinho nessa festa com amigos, aposto que vai fazer merda, do jeito que tu és… Eu que não abra o olho”. Isso dá uma raiva que dói na medula. Aí que você tem vontade de fazer algo: “Ah, é? Então, ela vai ter do que reclamar, vou aprontar mesmo”. Pode, sim, acontecer isso. O que é triste também.

O mundo está cheio de tentações. Manter uma relação saudável é um grande desafio. Ter respeito e confiança requer diálogo. É necessário você expor o que pensa com transparência e verdade. Dê razões para as pessoas voltarem a você. Dê espaço para o outro ser ele. Troque, demonstre afeto, carinho. Tenha amizade, antes de mais nada. Grandes relações conseguem sobreviver muitos anos por conta da amizade.

Mas, o que importa, é que tudo na vida é para o nosso aprendizado. Sofri bastante nesse relacionamento por conta do ciúme. Terminamos e nem nos falamos mais. Acabou ficando uma coisa meio áspera. Lembro quando estávamos recém terminados e eu ia viajar para Belém, tentei falar com ela sobre nós, sobre o que ainda sentíamos… Mas ela só dizia: “Você vai para Belém, né? Aposto que vai tirar o atraso lá”. Parece surreal, mas foi exatamente isso que aconteceu. Ali vi que não tinha mesmo mais forças para aquilo.

Ou seja, toda essa coisa de ciúme, deu espaço para grosserias e intolerâncias constantes. O que é uma pena, porque você não entra em uma relação por conta disso. No entanto, guardei o que de melhor teve nessa relação pra mim. Peneirei o que foi ruim e deixei as pérolas.

O curioso é que, passado um tempo, soube de algo que foi bem interessante saber. No último ano dessa minha relação, minha ex havia ficado com um cara que, digamos, era amigo nosso (amigo!!! mui amigo!! - contém ironia moderada). Veja bem, ela estava comigo e, não veio a mim e terminou, nem contou nada, simplesmente se envolveu com outra pessoa. Detalhe: essa pessoa era ex de uma amiga, que ela dizia ser a sua melhor amiga (eu apresentei as duas). Essa amiga sofreu muito nesse relacionamento. E a gente acompanhou isso. Ela não só dizia pra mim o quanto estava sofrendo, como dizia pra minha ex. E conversávamos, eu e minha ex sobre o cara parecer escroto, ao ponto de não dar importância para o que nossa amiga sentia. Essa amiga ia atrás dele em festas e tudo mais. Entenderam o peso da coisa? Ou seja, minha ex, não só não se importou de pôr a nossa relação em risco, como pôs a relação de amizade que ela tinha com essa amiga. Quando elas ficaram sem se falar, eu não entendi. Ficava pensando: “Nossa, elas são tão amigas, por que não estão se falando mais ou saindo?”. Nunca entendi. Quando soube disso, foi algo que, curiosamente, não me deixou com raiva. Senti pena. Pena de ver uma história se repetir. A pessoa começou uma relação, traindo alguém, e terminou, traindo também. Não só um namorado, mas UMA AMIGA. Ainda tive que ouvir isso: - “Pensei que vocês tinham uma relação aberta!” Eu ri do patético da situação! E reagi assim: “Oi???”

Então, a lição que se tira é isso: que devemos desconfiar das pessoas que tem ciúmes excessivos. Elas são assim, porque muitas vezes sabem os esquemas que criam para trair e morrem de medo que alguém faça isso com elas. Pude entender isso na prática! De uma maneira dolorosa e sufocadora. É um mundo para o qual não desejo retornar.

Por isso, digo: sejamos livres no amor. Ter uma relação é algo formidável. Saibamos aproveitar isso, da melhor forma. Com respeito, transparência e amizade. Ter ciúme, no fundo, não é bom. É fraqueza. Claro que não se pode ter indiferença. Então, demonstre amor, dê amor, faça amor. Isso é a maior forma de fazer com que a pessoa queira estar perto!

Bom amor pra vocês! Sem ciúme!

Raul Franco
Enviado por Raul Franco em 13/08/2018
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