Devaneios
Ela pensava nele.
Pensava muito. Sonhava. Imaginava muitas maneiras de estarem juntos. Perdidos em um abraço demorado, o corpo dele era tépido. Se abraçariam e no instante eterno daquele abraço os silêncios diriam coisas de amor, falariam? Pensava que não. Olhos fechados, mãos acarinhando as costas, óculos se esbarrando, vontade de beijar mas não, a vontade é melhor que o ato. Tem mais poesia.
Deitados na cama de solteira. A cabeça dele aninhada em seu colo. Um dia ele estava triste, silenciosamente ela compreendeu e o acolheu com tanta ternura que ele repousou todo o seu cansaço naquele abraço amigo. Carinhos nos cabelos castanhos. Beijos nos olhos verde-mel, minúsculas retinas afastadas por um leve estrabismo. Tatear o corpo dele inteiro, centímetro por centímetro daquela pele clara, quase transparente. Havia sinais e pelos, ela tinha visto um dia quando ele se espreguiçou na cadeira em uma conversa a propósito de nada. Ela o faria sorrir. O sorriso dele era lindo e raro entre os pelos da barba espessa. Dormiriam juntos, enlaçados mas talvez fosse a tristeza que os unisse, não o desejo. Como duas crianças abandonadas que procurassem, uma na outra, refúgio contra a solidão. O desejo, o desejo os afastava. Ele tinha um amor. Ela tinha um amor. E no entanto se amavam. De tanto não querer era o que ele mais queria. Ela já quis, muito. Confessa a si mesma que ainda quer. Mas ele só viu o aparente. E o querer dela transmudou-se em sonho.
Pensava muito. Sonhava. Imaginava muitas maneiras de estarem juntos. Perdidos em um abraço demorado, o corpo dele era tépido. Se abraçariam e no instante eterno daquele abraço os silêncios diriam coisas de amor, falariam? Pensava que não. Olhos fechados, mãos acarinhando as costas, óculos se esbarrando, vontade de beijar mas não, a vontade é melhor que o ato. Tem mais poesia.
Deitados na cama de solteira. A cabeça dele aninhada em seu colo. Um dia ele estava triste, silenciosamente ela compreendeu e o acolheu com tanta ternura que ele repousou todo o seu cansaço naquele abraço amigo. Carinhos nos cabelos castanhos. Beijos nos olhos verde-mel, minúsculas retinas afastadas por um leve estrabismo. Tatear o corpo dele inteiro, centímetro por centímetro daquela pele clara, quase transparente. Havia sinais e pelos, ela tinha visto um dia quando ele se espreguiçou na cadeira em uma conversa a propósito de nada. Ela o faria sorrir. O sorriso dele era lindo e raro entre os pelos da barba espessa. Dormiriam juntos, enlaçados mas talvez fosse a tristeza que os unisse, não o desejo. Como duas crianças abandonadas que procurassem, uma na outra, refúgio contra a solidão. O desejo, o desejo os afastava. Ele tinha um amor. Ela tinha um amor. E no entanto se amavam. De tanto não querer era o que ele mais queria. Ela já quis, muito. Confessa a si mesma que ainda quer. Mas ele só viu o aparente. E o querer dela transmudou-se em sonho.