Nossos domingos

Nossos domingos não têm nada de especial. Levantamo-nos um pouco mais tarde, mas isso é o que todo mundo faz. Como não é dia de trabalho, também não precisamos ter pressa. Podemos tomar o café da manhã calmamente e até nos demorar um pouco mais no banho. A manhã é mais curta, mas, em compensação, temos mais tempo para conversar. Colocamos em dia os assuntos de toda a semana, as coisas que vimos ou que aconteceram conosco e que não tivemos tempo para contar nos dias de correria, quando não é domingo. Coloco música para tocar e a mãe prepara o almoço. No almoço de domingo, a comida é sempre feita na hora, não é necessário esquentar a comida do dia anterior no micro-ondas.

Religiosamente, esse almoço acontece ao meio-dia. O domingo é o único dia da semana em que se prepara uma mesa para almoçar. Durante a semana, nós nunca estamos em casa. No sábado, almoçamos sem mesa mesmo, na frente do computador ou na frente da televisão, segurando o prato na mão. Mas no domingo há mais solenidade, há uma mesa, há uma toalha especial, há pratos e copos que não são usados nos dias de semana. Há um suco para beber. E comidas especiais feitas pela mãe, estrogonofe ou lasanha ou panqueca, alguma coisa muito saborosa, às vezes uma receita nova que ela pesquisou e achou que devia preparar para o dia diferente de domingo.

Sempre ligo à TV durante esse almoço, mas a TV fica em um local que não pode ser visto de onde nós estamos, então apenas ouvimos, quase sempre o programa de esportes da Globo. Comentamos coisas que ouvimos, com frequência falamos do combalido Paraná Clube e de sua trajetória para ser rebaixado. O período de almoço mesmo não dura muito, não sei se chega a dez minutos. E a mãe observa que leva tanto tempo para preparar e acaba tão rápido. Mas a comida ainda servirá para muitas jantas na semana.

Em seguida, tem a sobremesa. O domingo é o único dia da semana que temos esse luxo. Às vezes um pudim, às vezes sorvete, às vezes salada de frutas. Cada um pega o seu pratinho e vamos comer diante da televisão. Ultimamente, deixamos ver as notícias de esporte nessa hora e passamos ao Mister Bean. Se vocês não sabem, tem passado Mister Bean ao meio-dia na Band. E ali ficamos vendo e rindo, não vamos nem sequer à cozinha buscar mais sobremesa, com medo que de percamos algumas ótimas piadas.

Depois tem que lavar a louça, colocar de volta as coisas nos seus lugares. A mãe lê durante a tarde e usa o computador, eu uso o computador e leio. Saio de bicicleta, normalmente perto das cinco da tarde, que é a hora mais bonita do dia. Quando volto já está acabando o jogo na TV e eu vejo só o resultado, que é o que interessa mesmo. Dali a pouco já estou jantando, janto cedo, porque cedo eu vou dormir.

Mas antes tem o Sílvio Santos. Eu sei que um dia o Sílvio Santos vai morrer, por mais improvável que isso pareça, mas, enquanto isso não acontece, minha mãe e eu damos risadas das bobagens que ele diz no domingo à noite. Seus quadros são dos mais toscos, mas que importa, aquele homem nos faz rir bastante. Verdade que eu não sento na frente da TV para assistir, eu fico alternando entre ele e o PC. À noite eu geralmente posto a crônica da Escotilha.

Até que chega a hora em que achamos melhor escovar os dentes e ir dormir, o que se dá por volta das dez da noite. Com ligeiras variações, é assim que temos passado os domingos. Como disse, eles nada têm de especial, e a maioria das pessoas, inclusive, o acharia completamente sem graça. Mas não é assim que eu vejo. Eu o tenho como um dia agradável e diferente de todos. Sei que um dia esses domingos irão acabar, como tudo sempre acaba. Mas, em vez de esperar pela nostalgia, eu escrevo sobre eles no próprio momento em que acontecem e sou feliz.

Henrique Fendrich
Enviado por Henrique Fendrich em 23/08/2018
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