Desejo

Tento voltar a escrever, inúmeras vezes, sem sucesso...

Falta de inspiração? Não creio, pois, escrever, para mim, sempre foi mais transpiração do que inspiração.

Sinto uma coceira dentro da cabeça, um formigamento que, às vezes, me preocupa.

Porquanto possa ser uma possibilidade de um derrame, tal incômodo cessa, quando tento escrever alguma coisa, porém, ao cessar a coceira começa o pranto.

Pranto de lamentação, por desejar tanto e ser tão pouco; pranto de decepção, por tentar tanto e ter tão pouco.

O desejo de escrever me consome, carcomendo a mais tênue linha de raciocínio que possa surgir em mim, matando-a, antes, sequer, que consiga sair do “mundo das ideias”, que, segundo Platão, longe da fidelidade à literalidade de sua afirmação, e, sem querer ser medíocre na síntese,” tudo que existe, existiu, primeiro, no mundo das ideias”. Em outras palavras, morre no parto.

Minha ânsia em escrever é inversamente proporcional ao conteúdo dos meus textos, porém, por mais que seja degradante para quem os lê, para mim, é como se fora uma realização íntima e pessoal, como uma catarse.

Preciso dessa depuração/libertação, para que novos comichões desconexos possam me incomodar novamente.

Afinal, quem nunca teve desejos reprimidos? Quem nunca experimentou o desejo, às vezes ardente, de algo que se reconhece incapaz, mas que gostaria muito de fazer?

Um belo quadro ou andar de mãos dadas, uma linda música ou um sorriso, um poema magistral ou um beijo...

Uma sinfonia de desejos me assola.

Mas não me reporto aqui à materialidade das coisas, ao ter, como um carro ou uma casa, mas à materialidade do fazer, da ação aliada ao sentimento que ela nos remete. E assim, refaço a questão: Quem nunca desejou tanto e conseguiu tão pouco???

E daí outro questionamento me aflige: Por que continuo tentando?

Persistência? Insistência? Nada disso! DESEJO!!!!

Essa coisa que nos impulsiona e que nos conduz, mas, nem sempre, aos resultados desejados.

Apesar de tudo, sou grato a esse desejo, pois, graças a ele, para o meu bem e, talvez, para o lamento de todos os demais, eu não desistirei, pois, enquanto insisto, me sinto vivo!!

Com carinho,

Cláudio Réche