O PODER DO INCONSCIENTE

É com emoção e alívio que escrevo a crônica de hoje.

Não sei se alívio é a palavra certa, com a carga semântica pretendida, talvez não seja. Sabe aquele sentimento de: "agora entendo o motivo de muitas coisas que me ocorrem"? Sinto isso. Andei vasculhando minhas memórias desde os tempos de criança, fiz descobertas, montei hipóteses e cheguei a resultados até assustadores.

Você não deve estar entendendo nada do que quero dizer, então vamos lá. Abrirei um pouco do meu mundo, contarei coisas aqui que deixei de contar para muitos amigos próximos, familiares...

Ultimamente, principalmente no meio da noite, me pego com as mãos trêmulas, coração acelerado, gelo no peito, parece que vou enfartar!

Depois de alguns dias decidi fazer uma visita aos médicos, fiz exames, check ups completos, nada constatado.

"Dê um tempo para você mesmo, você trabalha demais e está estressado. Pratique meditação, elimine a cafeína de seu dia", disseram os médicos, quase todos.

Hoje, no meio do expediente, pensando em minhas perturbações, tive um flash, lembrei-me das noites de trevas em que meu pai chegava bêbado, transformando minha casa num verdadeiro inferno. Brigas, gritos, xingamentos, insultos. Meu coração chegava a mil por hora de preocupação por minha pobre mãe, meus irmãos. O tirano poderia fazer algum mal a eles, e o fez. Depois de alguns capítulos, muitos medos, para o bem de todos eles se separaram, o tempo passou.

Hoje, aos 29 anos, percebo que tudo o que sinto não passa de um trauma adquirido na infância pois, não por acaso, as crises que me perturbam sempre ocorrem à noite, mais ou menos no horário em que o "chefe da família" chegava à casa. Percebi que tudo isso não passa de um reflexo do passado.

Agora luto contra esse problema, vencendo aos poucos, respirando fundo quando sinto os primeiros sintomas se manifestando e confesso que não tem sido fácil, evito prescrições médicas e vou vencendo.

Quanto à emoção à qual me manifestei na primeira linha, digo que jamais poderia imaginar que o inconsciente pudesse armazenar traumas e trazê-los à tona depois de vários anos, ataques de pânico, ansiedades.

Agora entendo muita coisa e me emociono com certa mágoa, mas com o sentimento de que encontrei o motivo de tudo.

Quanto ao meu pai? Coitado. Hoje encontra-se com idade próxima aos 60 anos, alcoólatra, fumante, sozinho, pois até a companheira lhe foi arrancada de súbito pela foice implacável, inesperada. Não foi possível criar um vínculo pai-filho comigo e com nenhum dos meus irmãos, hoje formados, casados e bem-sucedidos financeiramente. Às vezes tento ajudar, mas tudo o que posso fazer é muito limitado, pois a dor dele é o peso da consciência.

Minha mãe? Hoje é rainha. Encontrou a paz e a alegria ao olhar pra trás e ver que atravessou a tempestade dignamente, cuidando sozinha de três filhos com escassos recursos até a formatura na faculdade de cada um deles. Hoje ela encontra o prazer de ver seus netos correrem pela casa, brincando, conversando, dando gargalhadas gostosas de se ouvir.

Obrigado, mãe, por ser para nós um verdadeiro exemplo do que ser e do que fazer diante das mais diversas dificuldades.

Pai, sinto muito, muito mesmo. Espero que o senhor supere e... conte comigo para o que precisar. Um abraço.

É isso. Obrigado

Raysten Balbino
Enviado por Raysten Balbino em 13/09/2018
Código do texto: T6447795
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