Cafona (?)

Leitores, uma pessoa de quem gosto muito usa a palavra "cafona" para referir-se a assuntos que não vêm ao caso. Ouvir diversas vezes uma palavra desperta em mim a curiosidade de conhecer a sua origem. É a Etimologia, meu mais recente bem-querer.

"Cafona" vem do latim "cafo" cuja derivação para o italiano "cafone" era usada para falar dos centuriões e seus hábitos rudes, grosseiros. Convenhamos: não dava para liderar uma legião de oitenta homens, em territórios muitas vezes hostis, tratando-os por senhores ou caríssimos. "Com licença, senhor, vou cortar o seu pescoço."

Mas qual seria o antônimo de cafona? Elegante? Sofisticado?

Outra vez do latim, "legere" era uma palavra usada pelos camponeses do Lácio para designar o ato de escolher das plantações os melhores frutos, selecionar as flores mais frescas. Com o tempo, o termo deu origem, entre outras palavras, ao "elegans", que não trata de aspectos materiais mas da conduta pessoal. Seria eu, Vera, considerada cafona por servir água ou café em meus copos de geleia, independente de quem seja a visita? E se eu tivesse copos de cristal exclusivos para visitas, parcelados em cinco vezes no cartão e chorasse por dentro ao ver um deles se quebrando ou pior, como uma pessoa acolá (de quem o amigo Dartagnan é fã), fazer a visita pagar? Pois, eu mesma respondo. Cafona, para mim, é essa diferenciação. veja bem: para mim. O gesto humilde e bem-intencionado de oferecer às visitas o que há de melhor é lindo. Eu não tenho essa delicadeza. Sou rude. Logo, sou cafona.

E o sofisticado? Significa falsificado, adulterado, remonta aos sofistas da Grécia Antiga. Esses filósofos diziam que qualquer pessoa, independente de sua posição social, poderia adquirir conhecimento e os modos dos patrícios, bastava ter dinheiro para isso. Eram os sofistas cafonas (grosseiros) por desvendarem esse preconceito do "berço de ouro" grego? Platão não pensava assim. Pelo contrário, em seus Diálogos, o filósofo usava de muita deferência para com os seus colegas pensadores e fazedores. Ser fino, culto e bem-educado, para um sofista, não era uma questão de linhagem mas de aprendizado. Seus discípulos eram sofisticados, ou seja, modelados por sofismas.

Por fim, que é o elegante? De novo a minha opinião: é aquela pessoa que cumprimenta o motorista, o cobrador, cede o assento no ônibus aos idosos, deseja um bom-dia ao porteiro, ao zelador do prédio, aos colegas de trabalho, aos chefes. Também é aquela pessoa (como a que me referi no início dessa crônica) que possui um carro caríssimo mas não menospreza a quem anda de ônibus, que não tem o hábito irritante de buzinar no trânsito e dá passagem aos pedestres. É quem não age de má-fé. Quem é sincero sem ofender. Há muitos exemplos. Ainda bem.

Até a próxima, leitores.

Srta Vera
Enviado por Srta Vera em 26/09/2018
Código do texto: T6460171
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2018. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.