Perdido o Pendrive Um Cartão Encontrado

 
Lucinha, seu nome era Lucinha. Quando me foi apresentada sua tia disse; Luiz, meu filho, essa é minha sobrinha Lucinha. Não era eu filho da tia da Lucinha, mas havia entre ela e eu uma relação de carinhosa e respeitosa amizade desde que nos conhecemos em 1974.

Todos tratavam a Lucinha como Lucinha, presumo que seu nome fosse, ou ainda seja, Lucia ou Lúcia, então eu também a tratava da mesma forma. Não posso dizer que éramos amigos, apenas conhecidos que ao encontrarem-se conversam formalidades e banalidades, e no nosso caso muitas risadas, ela tinha excelente humor, não sei se ainda o tem.

Nossos encontros, nunca marcados, aconteciam ao acaso quando íamos no mesmo dia a casa de sua tia, ou em alguma comemoração no mesmo lugar, portanto nos víamos poucas vezes ao ano.

Um dia na casa da tia recebi um envelope que Lucinha deixara para mim.
-Luiz, a Lucinha vai casar e deixou esse convite pra você. Entregue pelo primo da Lucinha, que às vezes me chamava de irmão. Antes de abrir o envelope fiz a pergunta idiota: Lucinha vai casar? A resposta veio da boca da tia da Lucinha, resposta em tempo verbal: É.

Ficou claro para mim que a tia tinha ressalvas quanto aquele casório. Voltei ao pequeno envelope, dentro do pequeno envelope estava um pequeno cartão manuscrito. Convite para o casamento civil, ou seja, em cartório. Para o religioso não recebi convite, todos ali sabiam que sou ateu e moderadamente hipócrita, não o bastante para ir a atos religiosos ou supostamente religiosos.

Fui. Fui de sapato meias calça com vincos camisa de mangas compridas paletó gravata e, cueca.

O cartão convite encontrei acidentalmente ontem numa pequena caixa de madeira quando tentava encontrar um pendrive que insistiu em não aparecer no lugar onde deveria estar, e quando a coisa não aparece onde deveria a gente começa a catar nos lugares onde não deveria estar. O cara não apareceu, deve estar em alguma nuvem. Mas o cartão convite estava donde deveria estar, estava esquecido mas guardado

Bem, duas coisas lá do cartório ficaram arquivadas nas gavetas de lembranças do meu crânio. Não necessariamente nessa ordem; a magistral beleza da juíza que sentencia casamentos e, a fisionomia triste, muito triste da noiva Lucinha. Estava previsto na resposta lacônica da tia. A união não completou um ano.
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 30/10/2018
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