Crônica Malhadinha o meu berço natal

Eu ainda sinto Malhadinha muito presente na minha vida de poeta popular. Foi em Malhadinha onde encetei a minha vida artística e literária. Entre meus dez anos ou doze, eu lia de tudo no velho alpendre da casa do meu avô: Agostinho José de Santiago Neto. Eu Tinha como preceptora a tia Marica que amava os livros e me incentivava a ler bastante o nosso José de Alencar, Machado de Assis, Humberto de Campos e sobretudo os sonetos de Olegário Mariano e Augusto dos Anjos o poeta da morte. Eu tinha toda liberdade para ler e brincar em torno da nossa casa e ainda visitar os amigos de infância com quem tanto brincava quando menino de oito a nove anos. A tia Josefa tinha muito cuidado comigo e com as minhas brincadeiras de menino peralta e liberto. Malhadinha foi o meu primeiro cenário artístico que conheci porque foi lá que ouvi muitas cantorias de Elizeu Ventania e João Liberalino, João Firmino, José Mota Pinheiro e Antonio Nunes de França. Aos treze anos eu já batia violão e tocava o baião da cantoria que me levou ao repente. Ninguém da minha família via aquilo com bons olhos porque todo os meus parentes queriam que eu fosse doutor em qualquer coisa. Nunca pude esquecer a minha terra natal a nossa velha Malhadinha tão cantada nos meus sonetos geniais. A minha prole brota toda ou quase toda de Malhadinha sendo apenas minha mãe natural de Quixeré da família Oliveira.Meu avô nasceu em Malhadinha e ali se casou fazendo família e morrendo no mesmo lugar. Meu pai criou-se também nesse rincão, morrendo com oitenta anos e nos deixando alguma terra para os meus irmãos findarem os seu dias por lá também. Em quase todos os meus sonetos o nome de Malhadinha parece sem nenhuma demagogia, porque eu respeito o meu berço como se ele fosse um pedaço de mim. Quando vou por acaso a minha terra natal é somente para chorar e me lembrar da minha infância triste contudo boa.Vivi em Malhadinha dos dois anos até os trinta e um anos quando resolvi deixá-la para sempre. Não tenho nenhum rancor ao meu rincão humilde entretanto não voltarei mais a morar nele embora a saudade me devore todo instante e faça com que Malhadinha permaneça dentro de mim e eu dentro dela.Somente a morte fará eu esquecer do meu reduto de infância.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 30/10/2018
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