Crônica a casa das loucas

Crônica a casa das loucas

poeta Antonio Agostinho

Conheci quando menino de dez anos em Nossa Malhadinha a casa das loucas como o povo chamava.A casa das loucas era a casa da velha Aninha Soares que tinha uma prole de seis filhas quase todas mentais.Quando eu ia cortar meu cabelo com seu Manoel Francisco as duas loucas estavam presas num quarto e eme chamavam para e soltá-las, ou pedir ao seu Manoel Francisco que as desse liberdade. Aquilo me deixava comovido porque eu não sabia de maneira alguma e por qual razão estavam elas presas naquele xilindró e o que realmente tinham elas feito para estarem ali. A tia Ana Rosa tinha muita pena daquelas duas criaturas sofredoras que nunca conheceram pai e tiveram uma vida atribulada e sobretudo doentes mentais. Eu fui muitas vezes à casa das loucas com a tia Josefa e ela não me falava sobre aquela doença e nem porque estavam elas sempre presas e criticadas pelos ignorantes que não respeitam nem sequer a doença. O meu irmão mais velho dizia que aquilo era de cortar coração ver duas pessoas perfeitas no físico quando na verdade eram duas criaturas doentes mentais. Uma delas se chamava Joana e a outra atendia por Maria da velha Aninha Soares o nome da mãe das duas mentais. Elas me chamavam o menino daTeté ou o menino das Agostinho. Ouvi muitas chacota do povo imbecil contra a maneira das celibatárias porque não tiveram maridos e se tornaram loucas varridas. Nunca desrespeitei-as nunca disse nada com elas e sempre me comovia com todo aquele estado de coisas que eu via. Um dia perguntei a tia Ana Rosa quem era o pai daquelas duas figuras humanas tão sofredoras, a tia Ana me falou que elas nunca tiveram pai e sempre sofreram daquele jeito o tempo todo. O seu Manoel Francisco era casado com uma irmã daquelas duas figuras tristes que viviam na companhia dele.Quando por acaso uma delas se soltava o seu Manoel Francisco ficava muito preocupado porque o povo sem escrúpulo punha a culpa nele dizendo que ele não ligava para elas. Por volta de 74, eu comecei a viajar e perdi de vista as duas irmãs mentais que logo morreram e partindo deste mundo par irem morar com Deus no éter celestial onde não há ranger de dentes e nem disputas por tanta heresia. Eu quando vou à minha terra natal tenho uma lembrança enorme das duas irmãs loucas que tanto me fizeram chorar quando menino.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 07/11/2018
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