Fui assistir a uma palestra, na UFRJ, cujo título era “Na fúria do vendaval”. Bom conteúdo, palestrantes cultos, embora todos necessitassem de um curso de oratória.
Na plateia muitas pessoas interessadas, mas algumas não largavam o celular. Uma moça, que chegou já atrasada, mal sentou-se e já pegou o seu. Passou toda a palestra distraída com ele. Num determinado momento a bateria acabou e ela começou a mexer na mochila em busca de um carregador. Eu assistia a tudo isso porque ela estava na minha frente. Depois de meia hora ela voltou, naturalmente depois de dar uma carregada básica no aparelho.
Ela usava uma roupa estranha, com um tipo de capa, azul, de cetim, típica de lojas chinesas, um turbante e umas botas. O tempo todo olhava para trás, como se estivesse procurando alguém. Não se contentava só em chamar atenção pela ves-timenta, mas também por não deixar o celular um só mo-mento.
Fico a me perguntar o que ela foi fazer ali naquele espaço, num dia chuvoso, se não prestou a mínima atenção em nada do que se disse no recinto.
É bem verdade que o celular tem as suas vantagnes. Num consultório dentário, por exemplo, onde só tem revista velha, ele pode nos ajudar a passar o tempo. No metrô, quando por obra do espírito santo a gente encontra um lugar, também. Sempre é melhor do que ficar olhando pra cara das pessoas, mas tudo tem limite. Se já não existisse a palavra “celulite” para mostrar gordurinhas indesejáveis, poderíamos usá-la para classificar os doentes que não conseguem viver sem o celular.
edina bravo
Enviado por edina bravo em 08/11/2018
Reeditado em 09/11/2018
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