O peso da idade

Padaria, início da manhã, um dia que começa com cafés, farelos e aromas de casa de vó. Na mesa ao lado, três adolescentes.

De uniforme escolar, parecem matar tempo até a aula do primeiro período. Toda a atenção dedicam aos seus celulares, aquela atenção que é misto de extrema compenetração e máxima distração; e os fones de ouvido de cada um erguem mais um muro bem ali, em espaços de menos de 30 centímetros. Silenciosos, lembram um pouco os devotos de algo, um certo ascetismo monástico, monges de cabelos do Cristiano Ronaldo.

Do outro lado sentam-se dois senhores. Barrigudinhos, olhos empapuçados, cabelos daquele grisalho amarelado - mas devidamente penteados como nos melhores anos brilhantinados da década de 60. Olham-se nos olhos e conversam-se. O sorriso faceiro passa por cima das xícaras e das cuecas-viradas e torna-se uma entidade; parece nascer de um divertido segredo compartilhado que, arrisco, devia ser aquela própria manhã. Atualizam a semana, os fatos, mas tudo leve, tudo partilhado, tudo naquele clima de quem olha as horas no pulso - um grande relógio prateado. Os corpos parecem cansados, não a partilha.

E a gente, do lado de fora, sente que a idade pesa quando sabe, e muito bem, e com leve reprovação velada, em qual mesa gostaria de puxar uma cadeira.