As duas faces da moeda

As duas faces da moeda

O índio pataxó Galdino Jesus dos Santos, caminhara meio desorientado por Brasília, onde aportou para comemorar o Dia do Índio, quando quatro jovens o encontraram entregue ao cansaço, dormindo em um abrigo de ônibus, e atearam fogo a seu corpo. Agora foram condenados a 14 anos de prisão, culpados de homicídio doloso triplamente qualificado. Os jovens jogaram dois litros de álcool no corpo do pataxó e atearam fogo. Galdino morreu no dia seguinte, com queimaduras de terceiro grau em 98 por cento do corpo. Max Rogério Alves, Tomás Oliveira de Almeida, Eron Chaves de Oliveira e Antônio Novély Cardoso foram considerados, pelo júri popular.

Na mesma semana a notícia de que o ator mineiro Guilherme de Pádua, que juntamente com sua mulher Paula, assassinou a atriz Daniela Perez, de forma torpe e cruel, no Rio de Janeiro, sendo condenado a 19 anos de prisão, que cumpre hoje em liberdade condicional poderá ser indultado. Para a autora de novelas Glória Perez, mãe da vítima, é um absurdo que um psicopata receba uma ficha criminal limpa e já foi ameaçada de processo pelo criminoso, que deve se julgar um anjinho. Lei é lei, e com toda certeza o galãzinho gozará das prerrogativas que o código de execuções penais permitir. Neste caso a mãe de Daniela tem razão pela repercussão que o crime obteve e por uma certa nuvem de mistério que o envolve até hoje.

No caso do índio pataxó uma brincadeira sem graça de jovens da classe média, o que acaba por tirar-lhes grande parte da adolescência e da juventude. No affaire Daniela Perez e Guilherme de Pádua restaram sempre questões mal resolvidas. A mais importante: o que levou um jovem, cujo futuro na teledramaturgia parecia brilhante, juntar-se com sua mulher e assassinar uma atriz já consagrada, com a qual participava de uma novela de sucesso? Seria Daniela Perez o objeto obscuro do desejo de Guilherme que por isso acabou com sua vida à punhaladas e depois foi consolar a família?

Desde que o descemos das árvores e colocado-nos em posição ereta temos lutado para criar modos de convivência sadia entre pessoas. Na Inglaterra medieval um cavaleiro passava por outro em uma estrada erma, desconfiava de seu jeito e enfiava-lhe a espada entre as costelas. Saqueava a montaria do infeliz e atirava seu corpo em uma vala, nunca mais ouvindo-se falar dele.

Hoje isto raramente acontece, pois um arcabouço de leis e procedimentos administrativos nos protege. Eu creio.

O sistema penal em todos os países do mundo, inclusive no Brasil, quer permitir que aqueles que são condenados pela sociedade possam redimir seus erros fora das prisões, verdadeiros depósitos nauseabundos que muito antes de recuperar deturpam cada vez mais a personalidade dos presos. Mas, a pergunta que paira no ar é se Guilherme de Pádua ou os quatros jovens de Brasília, uma vez nas ruas não cometerão novos crimes?

Apesar de todos os cuidados de que se cerca a Justiça, só Deus e o tempo poderão nos dar a resposta. Todos nós esperamos que estas tristes histórias tenham um bom final, evitando que tenhamos de voltar a viver no alto das árvores ou no fundo das cavernas.