acontecimento em uma quarta-feira de manhã
Eu trabalho ao lado de um bar, né, e hoje quando cheguei fiquei nele matando umas horas, porque a agência ainda tava fechada. Não bebi, nem nada, apenas fiquei observando os carros parados ao sinal vermelho na rua à minha frente. Pensei em tirar um livro de minha mochila, mas a atenção em meu celular era maior. Passado talvez uns dez minutos um moço parou ao meu lado, pediu sua cerveja e começou a conversar com quem o serviu, mas eu não tava prestando muita atenção. Pensei que deveria ser só mais um bebum, julgando o cidadão sem mesmo conhecê-lo. Até que ele se virou a mim e começou a falar comigo. Só ele falava, quase um monólogo. E das coisas que disse uma, agora que estou de frente pra um computador, ainda me deixou encucado.
“Todo mundo hoje em dia tem um vicio, primo,” ele me confiou. “Eu uso droga. Não vou esconder, falo mermo. Mas quem também não usa? E gosto de tomar minha cerveja também. Mas tem vicio que é pior que vicio de droga, sabe? Tem vicio de jogo que nego perde mais do que dinheiro, primo. Dar um tequinho hoje em dia não é nada. Eu dou um tequinho às vezes, o problema é meu. Só que aí, te dizer que eu sou pai de família, primo. E lá em casa não falta comida na mesa. Nunca faltou. Recebo meu auxílio do Bolsa Família, papo de duzentos reais, e tenho meu lava jato ali na rua, aqui perto,” me mostrou gesticulando onde ficava. “E lá em casa comida não falta. Minha filha me visita às vezes, primo. Eu compro uma coisinha pra ela, pra comer quando aparece, sabe? Da pra levar a vida assim.”
Ele nem é meu primo, mas bateu um senso de familiaridade. Sei lá, minha quarta feira começou assim. Aí ele se levantou, pegou a garrafa de cerveja vazia e pôs em cima do balcão.
"Eu bebo pouco e fico logo tonto. Acontece, né?" ele disse. "Bom, vou lá, primo. Se cuida aí, abraço."
Eu trabalho ao lado de um bar, né, e hoje quando cheguei fiquei nele matando umas horas, porque a agência ainda tava fechada. Não bebi, nem nada, apenas fiquei observando os carros parados ao sinal vermelho na rua à minha frente. Pensei em tirar um livro de minha mochila, mas a atenção em meu celular era maior. Passado talvez uns dez minutos um moço parou ao meu lado, pediu sua cerveja e começou a conversar com quem o serviu, mas eu não tava prestando muita atenção. Pensei que deveria ser só mais um bebum, julgando o cidadão sem mesmo conhecê-lo. Até que ele se virou a mim e começou a falar comigo. Só ele falava, quase um monólogo. E das coisas que disse uma, agora que estou de frente pra um computador, ainda me deixou encucado.
“Todo mundo hoje em dia tem um vicio, primo,” ele me confiou. “Eu uso droga. Não vou esconder, falo mermo. Mas quem também não usa? E gosto de tomar minha cerveja também. Mas tem vicio que é pior que vicio de droga, sabe? Tem vicio de jogo que nego perde mais do que dinheiro, primo. Dar um tequinho hoje em dia não é nada. Eu dou um tequinho às vezes, o problema é meu. Só que aí, te dizer que eu sou pai de família, primo. E lá em casa não falta comida na mesa. Nunca faltou. Recebo meu auxílio do Bolsa Família, papo de duzentos reais, e tenho meu lava jato ali na rua, aqui perto,” me mostrou gesticulando onde ficava. “E lá em casa comida não falta. Minha filha me visita às vezes, primo. Eu compro uma coisinha pra ela, pra comer quando aparece, sabe? Da pra levar a vida assim.”
Ele nem é meu primo, mas bateu um senso de familiaridade. Sei lá, minha quarta feira começou assim. Aí ele se levantou, pegou a garrafa de cerveja vazia e pôs em cima do balcão.
"Eu bebo pouco e fico logo tonto. Acontece, né?" ele disse. "Bom, vou lá, primo. Se cuida aí, abraço."