Parede rabiscada

Aquela parede me pedia pra ir embora.

Na verdade, ela gritava para que eu saísse. Ainda assim eu permaneci.

Naquela parede eu li declarações de/para outra pessoa logo após uma entrega de alma. Uma entrega que eu ainda não estava preparada mas que me fez bem.

Meus sentimentos estavam confusos, as sensações eram desconhecidas. Eu estava acostumando meu corpo a tudo... Quando eu vi uma declaração de amor na parede e me senti avulsa. Sabe aquela folha de sulfite colorido que as vezes aparece por engano no pacote de sulfite branco ? Então, era eu.

Ele já amou. Eu já amei. Ele viveu. Eu vivi. Essas questões não cabem dentro de um relacionamento, afinal, o passado existe para todos. Ele nos fez.

Mas, ter o passado de alguém no seu rosto é mais difícil do que apenas saber que ele existiu.

Talvez a vida adulta seja o grande gesto de aprender a tocar nas nossas feridas sem aumentá-las. Aprendendo a encarar as paredes rabiscadas que encontraremos, como elementos físicos de memórias eternas.

Um risco na parede, no final das contas, é um risco na parede. Uma foto no fundo de uma Caixa, é uma foto no fundo de uma caixa. São apenas elementos que apontam a existencia de vida antes da sua. Aquele ser já foi habitado antes de você e tudo bem, afinal, você também já foi morada de alguém.

Pena que pensar racionalmente e emocionalmente conflitem tanto. Tudo seria mais fácil e menos doloroso se esses pensamentos se alinhassem.

A marca de um sorriso
Enviado por A marca de um sorriso em 29/11/2018
Reeditado em 24/05/2019
Código do texto: T6514486
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