O fantasma e o "Olhos verdes".

Era, de uma beleza incomparável. Magra porém não muito, corpo esguio, cabelos lisos até os ombros e olhos verdes, muito verdes.

Todos os dias esperava pelo marido chegar á porta, com um sorriso largo em uma romântica cena diária admirada por todos na rua.

Jamais escondeu de ninguém que o seu sonho era engravidar, ter seu primeiro filho, dizia que estava a algum tempo tentando, e mesmo com tratamento com renomado profissional, não obtivera até então sucesso.

Ele, seu marido chegava com sua motocicleta barulhenta todas as tardes em seu uniforme típico do trabalho nas dependências da fábrica.

Tinham vida tranquila, nada se ouvia de diferente, além da chamativa exótica aparência da "modelo", talvez assim chamada por sua altura e por aqueles verdejantes olhos.

Até que um dia ela esperou por ele até tarde da noite. Seu horário de chegar era sempre os mesmo. Chamou a atenção, tudo porque não tinha o hábito de se atrasar sem avisar.

Não era costume se encontrar com amigos após o dia de trabalho, ou mesmo fazer hora extra, pois tendo em casa aquela beldade, não fazia sentido ficar nem mesmo pelos bares com amigos, pois logo algum gaiato mais chegado fazia a clássica piada, imitando um antigo personagem do Jô Soares que tinha como bordão que dizia:

-Vai pra casa Padilha.

Diziam assim pela bela mulher que o Padilha possuía.

Ela com certeza poderia ser a tal mulher do Padilha.

Até que tarde da noite veio o telefonema e a fatídica notícia do acidente da motocicleta próximo ao hospital. Teria sido trauma craniano, e mesmo com o socorro imediato, não sobreviveu.

Foi um choque, desses difíceis de absorver.

Estarrecida ainda ficou por uns tempos morando naquele mesmo lugar.

Até que um dia causou surpresa, quando saiu correndo apenas cobrindo-se com uma toalha de banho chorando em desespero.

Foi bater exatamente, na minha casa, assustada.

-O que foi que aconteceu? perguntei

Balbuciando em voz trêmula disse.

-Enquanto estava no banho, senti que alguém me observava, foi tão rápido, mas havia alguém me olhando, tenho certeza que havia.

Falava assustada enquanto encabulada com os trajes, uma toalha e ainda com o cabelo molhado, imagem que ao mesmo tempo transmitia sensualidade e medo.

Jamais esquecerei aquela cena, pois desapontada me pediu para ir até sua casa. Enquanto trocava sua roupa, fiquei na sala aguardando. Agradeceu pela ajuda e saiu.

No dia seguinte um caminhão encostou levando a mudança.

Nunca mais tive notícia daqueles olhos verdes, nem consegui apurar sobre aquela estória de alguém observando enquanto se banhava.

O que me faz pensar que se era mesmo um fantasma, com certeza era um fantasma de muito bom gosto...