Insônia

Eis que chega mansamente. Visita que tarda a ir embora. "E os teus exames, deram certo?" ela pergunta. "Aquele nódulo naquele lugar é boa coisa?" A conversa se estende. Curiosa, quer saber todos os detalhes. Como foi, como não foi e, principalmente, como será. A irmã bate na porta, a ansiedade entra sem cerimônia. Em certa medida, já é de casa. As irmãs arranjam um falatório. Se notar bem, ambas não são tão diferentes. Se a análise for rigorosa, há de se ver que falam sobretudo a mesma coisa. São visitas mordazes, comentarão sobre ti com as amigas. "Viu como aquele plano dele é mal arrumado? Todo empenado, faltando corpo, presença" dirá a ansiedade. "Claro que vi. Viu aquela ambição descabida no meio da sala? Ele não entende de decoração" arremata a insônia. Dançam agora em torno da fogueira improvisada no quarto. Ébrias: riem, zombam, sorvem o suor com o qual encharco os lençóis. O galo canta e continuam seu escarcéu. Como fazê-las ir embora? Embriagar-me também? Fazer o corpo penetrar por qualquer psicoativo sedativo? Faço isso e a solidão da minha escolha invadirá a cena. Temo essa nefasta rainha. Prefiro a companhia das irmãs. Felizmente uma hora se vão. Não há visita que dure para sempre (graças a Deus). "Mas ainda não", dizem ambas. Há o que conversar. Sempre há o que conversar. Felizmente a fogueira esmaece aos poucos. Ondas vagarosas em um dia nublado. Praia deserta. Olhos fechados. Deixo-me arrastar. Sono enfim.