O FRESCOR DO MOMENTO

Há alguns momentos na vida em que somos capturados pela atmosfera. Ou talvez tentamos capturar o que se passa em volta.

Essa semana foi pesada. Houve alguns percalços. Algumas coisas mal resolvidas e mau entendidos. Ainda nem iniciou oficialmente o verão e já estamos reclamando do calor. Nesta sexta-feira, aqui em Porto Alegre, a sensação térmica passou dos 40 graus. No termômetro marcou uns 35°C, mas com a alta umidade a sensação de calor era pegajosa.

Prá lá do meio da tarde, veio uma chuva passageira de verão. Um pouco de vento, granizo e água nem tanto. Mas refrescou. A tensão que estava no ar se desfez. Sai para o mercado e ao passar em frente a casa de um amigo arquiteto, lá estava ele no trilho do seu pequeno jardim apreciando a natureza. De bermudas, camiseta e chinelos. Admirava as últimas gotas de chuvas que ainda escorregavam das folhas. Inebriado pelo frescor e o cheiro da chuva, enquanto cofiava a barba, aliviando a pressão acumulada horas antes. Decerto sonha, imagina, arquiteta um projeto onde é possível capturar o frescor do momento. A brisa, a luz prateada, o perfume da relva molhada (até rimou). Flutua no jardim, tal qual um menino que acaba de descobrir o sentido da vida. O segredo de ser feliz, mesmo sem saber.

Depois das compras, chegando em casa, encontrei alguns vizinhos conversando sentados nas escadas e pedras em frente às casas no condomínio. Pude avaliar que sentiam a mesma sensação minha e do amigo arquiteto, de alívio produzido por uma chuva rápida e alvissareira, apagando as brasas dessa sexta-feira que, ainda cheia de promessas, para a noite que começa a se esparramar sobre a cidade que ruge nervosa.

- Por favor, caro arquiteto, desenvolva logo este projeto, capturando esse momento ímpar de rara beleza!

Porto Alegre, de dezembro de 2018

Jorge Luiz Bledow

E-mail: bledow @cpovo.net