Cara e coroa

CARA OU COROA

O núcleo é um cometa e aqueles que formam a cauda são os que não têm luz própria; são os satélites do planeta que, pela força maior, ficam gravitando ao seu redor, como abelhas em volta da flor. A seiva da planta, o néctar e o pólen fertilizador são transportados, mas não usufruídos; são desejados e jamais conseguidos.

No mundo há aqueles que nasceram para brilhar, para clarear com sua luz as trevas, a penumbra, àqueles que são sombra daquilo que idealizam e jamais lá chegam. O verso e o reverso da mesma moeda: de um lado a cara, a pessoa, um alguém; do outro, a coroa, o símbolo que sonha ser a face, sem realizar seu desejo. Nesta terra dualista estamos sempre entre duas escolhas e o nosso livre arbítrio nos leva a perambular ora em um lugar, ora no outro.

O sol, o núcleo, a cabeça do cometa é sempre único, em torno do qual, os que não são originais, orbitam buscando um pouco do calor e da luz que se irradia do ideal. No jogo da vida devemos sempre ser “o cara”, aquele que é admirado por sua beleza e retidão. Os desvios do caminho são muitos e atrativos mas nossa meta deve ter um ímã mais forte do que as seduções do falso brilhante. A inteligência humana pode conceber a vantagem de estar entre os fortes da terra, mas só o conhecimento lhes fará capaz de construir seu próprio espaço e escolher seu próprio destino.

Os planetas usufruem da luz da estrela, mas se não fosse o seu núcleo incandescente, jamais produziriam vida em sua superfície e, em algum tempo, morreriam, desapareceriam do universo. A lei da vida é a lei do mais forte. Este se torna centro e fonte de energia. Mas ser o centro gera um gasto de energia que poderia, também, concorrer para o nascimento de um buraco negro onde nem a luz penetra. Aí reinam as trevas e a penumbra, seu vassalo fiel, se alimenta da escuridão e fica na entrada, recepcionando e acolhendo os desprevinidos, os incautos.

A peleja é dura e a luta renhida. Isto me faz lembrar o poema de Gonçalves Dias Y Juca Pirama: “não chores meu filho que a vida é luta renhida, viver é lutar”. O que é mais fácil ou mais agradável: lutar contra a atração do vértigo ou deixar-se levar pela corrente? Já reparou que, quando se contempla um abismo, um buraco muito fundo, as nossas pernas se enfraquecem e temos uma espécie de tonteira? Estamos nos nossos sentidos e podemos dizer sim ou não para a voragem, mas balançamos, por uma fração de segundos, como se esta decisão não estivesse ao nosso alcance.

É muita filosofia barata para um sábado de sol em Petrópolis, cidade nobre, cuja atração se fez em torno de um imperador, seu fundador e seu núcleo. Mas se pensam que foi ele que deu o nome a este lugar, enganam-se. Petrópolis tem este nome por causa de seu padroeiro: São Pedro de Alcântara, cuja festa se comemora em 16 de março, feriado maior da cidade serrana.

Gilda Porto
Enviado por Gilda Porto em 15/09/2007
Código do texto: T653586
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