Somos chique, benhê

Até hoje eu procuro entender o que as pessoas querem ao falar de outro que se veste de preto, coloca um buquê de rosas vermelhas na mão e uns óculos de sol (nem sempre um ray-ban) na cara para caminhar atrás de um caixão. Também é inaceitável uma pessoa que se veste com um vestido rosa, contornado por plumas roxas e um sapato branco com o salto lilás para acompanhar a São Paulo Fashion Week. Porém seria normal ver um animador de festas tentando combinar o laranja-uniforme-de-gari com um verde-limão e um rosa-drag-queen. As pessoas reparam e comentam de tudo!

Caminhar pela rua como quem não quer nada é o passatempo predileto dos brasileiros fuxiqueiros. Seus olhos perseguem a adolescente de cabelos verdes e com “brincos” na cara. A madame com um sobretudo xadrez em preto e marrom, com seu poodle em mãos. O executivo, que segura sua bolsa e comporta um terno, às vezes um casaco mal passado, preto, dando uma escapadela na gravata, que na maioria das vezes é vermelha ou laranja.

Será que essas pessoas não olham para si mesmo? Quando pequeno eu adorava ir a igreja com a minha avó, sentávamos nos bancos laterais, pois sempre íamos atrasados, e, com sono do salmo, seguido pelo evangelho eu ficava olhando as pessoas. Sempre levava um beliscão da véia, quando soltava um: “Olha vó, como ela é feia!” ou então: “Vó, aquela parece com a vovó Mafalda.”

Eu era criança.

Mas esses singelos brasileiros, não são mais criança, muito pelo contrário, tem a mesma idade da minha “véia”. Será que quando esses levavam seus netos para a igreja, não os beliscavam a um passo em falso que cometiam? Ou melhor, será que esses não tinham avós para ensinarem boas maneiras para eles?

Minha mãe, nunca suportou minha fase de azul. Sim, teve uma época que eu usava somente cueca azul, calça azul, blusa azul e... meia azul.

Claro que com tons diferentes, para eu não me camuflar quando quisesse voar por aí. Até colocava sabão em pó extra nos meus uniformes brancos, para tingi-los e culpar a coitada da empregada.

Outra fase medíocre pela qual passei, foi quando quis ser um pokémon. Eu tinha lá meus sete anos, e andava de camisa verde, cueca e meia branca para tentar ser um pokémon da terra. Fazia umas asas de cartolina e pregava nas costas. Minha mãe nunca me deixou sair em público assim...

Agradeço a estilista que tenho em casa. Já pensou se uma dessas madames fuxiqueiras me encontrasse na rua? Falariam o que de minha pessoa? Acho que nada, apenas olhariam dos pés a cabeça, pois até hoje ninguém teve coragem de comentar sobre as ousadias da Hebe Camargo, porque comentariam de mim?

Eduardo Bonine
Enviado por Eduardo Bonine em 30/10/2005
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