Justiniano de Serpa
Hoje fui fazer uma prova em um dos mais tradicionais colégios de Fortaleza: o Justiniano de Serpa. Justiniano, o poeta. Condoreiro. (Também político mas isso não me interessa.) Um grande. Abolicionista. Para mim, a primeira das Três Liras.
Vou em silêncio, passo a passo, me aproximando da augusta casa.
Sombreando a escadaria, antiga torre encimada por um relógio. Sinto algo diferente no ar: os amplos espaços, as árvores antigas, de troncos grossos e enegrecidos, os bandos de pombos, sabiás e outros pássaros caminhando ou voejando tranquilos pela praça. As paredes grossas, com janelas em arco, gradeadas como claustros. Quantas normalistas deixaram por um momento de prestar atenção às aulas para suspirar por um amor clandestino que por elas esperava, sôfrego, para além daqueles gradis? Terá sido em alguma estudante que Justiniano se inspirou para escrever "O Poeta e a Virgem"?
No hall, a galeria de ex-diretores. Tudo me fascina e me desperta a imaginação. O vento carregando as folhas secas. É demais para o meu coração. Para quebrar o encanto, avisto o pombo. Passou voando rente ao chão, caminhou e alçou voo com um saco plástico vermelho pendurado na asa. Primeiro pensei que a cor tivesse confundido o pássaro mas depois percebi que ele estava assustado; o objeto estava preso à sua asinha.
Passei a prova inteira pensando no bichinho. Eu poderia ter tentado ajudá-lo a se livrar daquele saco incômodo. Decerto ele voaria, assustado, mas, por que não tentei? Por que fiquei sentada, olhando, como se estivéssemos em dimensões diferentes? Poderia ter dado certo. Mas eu não tentei. Às vezes isso me acontece, como se algo maior que eu me detivesse. Como se eu não estivesse em mim mesma.
Agora estou triste. Um estranhamento, uma irritação. Uma opressão no peito. Eu nunca vou saber o que poderia ter sido. É muito escuro, lá, onde as impossibilidades habitam.
Vou em silêncio, passo a passo, me aproximando da augusta casa.
Sombreando a escadaria, antiga torre encimada por um relógio. Sinto algo diferente no ar: os amplos espaços, as árvores antigas, de troncos grossos e enegrecidos, os bandos de pombos, sabiás e outros pássaros caminhando ou voejando tranquilos pela praça. As paredes grossas, com janelas em arco, gradeadas como claustros. Quantas normalistas deixaram por um momento de prestar atenção às aulas para suspirar por um amor clandestino que por elas esperava, sôfrego, para além daqueles gradis? Terá sido em alguma estudante que Justiniano se inspirou para escrever "O Poeta e a Virgem"?
No hall, a galeria de ex-diretores. Tudo me fascina e me desperta a imaginação. O vento carregando as folhas secas. É demais para o meu coração. Para quebrar o encanto, avisto o pombo. Passou voando rente ao chão, caminhou e alçou voo com um saco plástico vermelho pendurado na asa. Primeiro pensei que a cor tivesse confundido o pássaro mas depois percebi que ele estava assustado; o objeto estava preso à sua asinha.
Passei a prova inteira pensando no bichinho. Eu poderia ter tentado ajudá-lo a se livrar daquele saco incômodo. Decerto ele voaria, assustado, mas, por que não tentei? Por que fiquei sentada, olhando, como se estivéssemos em dimensões diferentes? Poderia ter dado certo. Mas eu não tentei. Às vezes isso me acontece, como se algo maior que eu me detivesse. Como se eu não estivesse em mim mesma.
Agora estou triste. Um estranhamento, uma irritação. Uma opressão no peito. Eu nunca vou saber o que poderia ter sido. É muito escuro, lá, onde as impossibilidades habitam.