É VIDA QUE SEGUE...

Aposentar... soa meio estranho esta palavra. Chegou a hora. A simulação foi feita e faltam exatos 5 meses e 22 dias para a minha saída. Dia 01 de julho completo trinta anos de serviço. Uma vida.

Ouço passos na escada. Chegou alguém. É 1990...

Ao longo do corredor branco, meu sogro anuncia.... você passou no concurso da Prefeitura! se referindo ao processo seletivo que eu havia participado meses antes. Alguns dias se passaram para os trâmites legais e a posse. Daí em diante: Uma maratona incrível- Funcionário Público é assim : Um joguete na mão dos políticos. Tratam funcionários adversários como inimigo. Não foi diferente comigo.

Se o prefeito desconfia que o funcionário não votou nele. Manda para os lugares mais distantes. Se pudesse mandava para o inferno. Cada um que entra traz junto o cordão dos puxa-sacos, os quais somos obrigados a tolerar por quatro anos.

Coitados dos concursados!

Cursos, faculdade, novas amizades e o construir de uma nova família. Computadores gigantes, programas feitos em DOS. Dificuldades imensas em fazer os buckps em diskets. Folhas de pagamento na máquina de escrever, Fórum, Delegacia, Exercito. E para finalizar Prefeitura de novo, Processos Administrativos e Juarezinho, meu último chefe no Departamento de Obras... É PA CABÁ. Esta foi a trajetória de todo este tempo.

Olhando para trás passa-se um filme em minha cabeça. Quanta gente passou em minha vida...pessoas fáceis e difíceis de conviver, Juiz, Delegado, Prefeito (vários) e muitos colegas de trabalho, cada um com as suas particularidades as quais devemos nos adaptar e respeitar.

Pessoas. Algumas marcaram mais. Lembro-me bem do Randolfo, na minha primeira etapa, pessoa complicada, mais de um coração enorme que não media esforços para colocar o serviço em dia, amizade que perdura até hoje. Riamos muito dos acontecimentos. Ei! Randolfo lembra do dia que perguntou a Maria Assuntácia - Qual período ela desejava gozar as férias e ela lhe respondeu com ar desafiador . “ Vc me respeite, eu vou gozar quando eu quiser, afinal sou casada e você não tem nada a ver com isso. Meu Deus! Uma professora!

Construímos uma grande família.

A Crisbela “Que Deus a tenha! Apareceu um dia no Departamento de Pessoal para pedir contagem de tempo. Ao ser perguntada em qual período trabalhou responde “ ... Eu “Di” escola no Espraiado no começo do “mandado” do Chiquinho” rsrsrs... Tínhamos que nos segurar, para mantermos a seriedade.

O Chiquinho do lixo era um “coitadinho”. Jesus (outro funcionário) havia sido assassinado e quando comentávamos sobre o ocorrido mencionou o seguinte comentário: “coitado do Jesus, saia do volante e descia do caminhão para esperar “o nóis” enquanto aguardava eu colocar o lixo em cima da caçamba, dizia “pula Chiquinho, Eu pulava. NUNCA ME DERRUBOU!. Querendo mensurar as qualidades do defunto.

Zezinho era funcionário da Delegacia, um dos locais onde prestei serviços, o mais mulherengo de todos. Recebia o salário de manhã e a noite visitava todos os “puteiros” da redondeza. Cada mês ia em um, e o pior fazia amizade com “as tias” e vivia ligando para todas, que esperavam, com ansiedade, o próximo pagamento. Vixe!

Vicente fazia parte da vida da da Delegacia. Vinha quase todo o dia de outra cidade (trazia alguns documentos para assinatura do delegado) tão aconchegante era aquele ambiente e a energia boa que continha.

Dona Sônia (in memorian) vivia a perturbar, muito fanhosa, só de pronunciar as palavras já causava risos, queria que prendesse o seu marido que vivia a aprontar. Por último seu marido havia presenteado uma amante com um celular, lá no bar do peixe deixando Dona Sônia indignada e inconformada. Tanto insistiu que acabei, para me livrar dela, por pegar folha em branco e comecei a anotar como se estivesse fazendo um Boletim de Ocorrência. Dizia em alto e bom som, enquanto ouvia as gargalhadas nas outras salas: “...Senhora Promotora favor mandar prender o marido da Dona Sônia. O marido dela está aprontando com uma sirigaita lá no bar do peixe.

Conforme as instruções que ela me passava, fui tomando nota no papel. Terminada as anotações Dona Sônia pediu para eu ler, assinou e saiu feliz. Foi para casa contente. No dia seguinte ao subir a rua que direcionava na Delegacia avistei Dona Sônia sentada na porta e logo imaginei. Vou ter que fazer outro BO.

Dona Sõnia me esperava para pedir que soltasse o marido que havia sido, coincidentemente, preso na data anterior. Pode?

- Impossível Dona Sônia ele haverá de continuar preso, pois, a promotora, não há de querer soltá-lo. Espere alguns dias. Ficamos, assim, livres da Dona Sônia por um bom tempo.

Fomos felizes nesta etapa.

O Delegado era um “fofo”! até que foi substituído pela fera. Uma megera “debutante de delegada” que acabou com a festa e com a família de lá.

Muitos acontecimentos hilários ocorreram, amizades de todas as cores e tamanhos. Relacionamentos dignos de "best selers". Daria um livro.

Afinal se passaram trinta anos. Filhos criados, netos nascendo e amadurecendo, casamento com o mesmo marido de novo.

.......... É vida que segue.

Mariana Quintanilha
Enviado por Mariana Quintanilha em 28/01/2019
Reeditado em 06/02/2019
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