Vagabundo

Estava escutando outro dia desses o hino dos vagabundos, que tem até o nome bastante sugestivo para a classe: “Vagabundo Confesso”, e confesso que me identifiquei de alguma forma com o que foi escrito e cantado nessa música. Antes de qualquer prolongamento de minha parte, é necessário dizer que longe de mim ser um vagabundo de carteirinha, claro. Trabalho e é dessa maneira que ganho o meu suado e querido dinheiro com o qual pago a minha internet santa de todo dia que me permite postar esses textos sem pé e nem cabeça para que, aí sim, desocupados possam ler enquanto deveriam estar estudando ou trabalhando (por falar nisso, olhe para trás e veja se o seu chefe ou sua mãe não está por perto). Mas cá estou em mais uma tergiversada.

Como estava dizendo antes de ser interrompido por mim mesmo, identifiquei de alguma forma a minha vida com essa música, só que de ponto platônico, por assim dizer. Existe vida mais gostosa do que passar o dia inteiro em cima de uma rede olhando para um rio ou um mar, tomando suco de laranja (ou suco de cevada, popularmente conhecido como cerveja, para os que apreciam) e escutando o embalo harmonioso de uma pessoa tocando um som bem calmo em seu violão Gianinni? Bom, não sei você, mas para mim isso seria o paraíso em terras humanas, até porque a vida de publicitário é um tanto quanto estafante e só vejo essa paz quando desligo o celular e vou dormir.

Mas, permita-me apresentar-lhe o meu mundo perfeito. Feche os olhos (ou melhor, primeiro leia e depois feche, senão não irás entender nada do que eu quero dizer e ainda vão pensar que você está “pescando” de sono).

Imagine agora um belo e gostoso final de tarde de verão em frente a sua praia favorita (a minha é Porto de Galinhas, distante da praça porque tem muita gente desocupada fazendo barulho e longe da praia de Boa Viagem porque não levo a menor vocação para isca de tubarão), enquanto você está deitadinho embaixo do guarda-sol, uma bela morena (ou moreno, para a classe feminina) traz uma deliciosa “piña colada” com um guarda-chuvazinho pendurado na borda do copo. Você escuta, ao invés de choro de crianças e marmanjos gritando “gol” em uma partidinha de futebol, o som das ondas quebrando de forma sincronizada no mar (onde mais poderia, né?) e a brisa fazendo o som ambiente em seus ouvidos. A última vez que tive essa sensação, por incrível que possa parecer, foi na minha própria casa quando achei uma concha do mar e coloquei na orelha. Mas agora você é quem me diz: Deu vontade de estar nesse lugar detalhado por mim agora ou prefere mesmo essa cadeira desconfortável em frente ao computador? Se você preferiu a que detalhei, parabéns! Tem vocação pra vagabundo nato. E aqueles que disseram que não tem, mil perdões, mas que bela cara-de-pau, heim?

Tem uma outra parte nessa música que diz mais ou menos assim: “Quando você for trabalhar, tome cuidado que é pra não me acordar.” Aí pensamos: “Putz, hoje ainda é segunda-feira e esse cara coloca na música que é pra não acordá-lo quando eu for trabalhar?” É meu caro colega, essa é a vida que eu falei e você lá em cima disse que não preferiria. Eu avisei! Quem é que não quer chegar no domingo a noite, após voltar do cinema com o seu par ou depois de ter assistido o Pânico na TV ou o Fantástico (que tem aquela voz cada vez mais cadavérica do Cid Moreira) e dizer: “Amanhã eu vou acordar lá para as 10 da manhã, tomar um café da manhã reforçado e ir encontrar o pessoal para pegarmos a “cor do verão” na casa de praia do Augusto. Quando for a tarde, almoçar um peixe assado na brasa com todos os acompanhamentos possíveis que tenho direito e tomar uma Coca-cola gelada para descer. Ao anoitecer, fazer aquela rodinha de violão e cantar pela octagésima milésima vez “Pais e Filhos” e lembrar de como eram boas as bandas dos anos 80”. É, meu querido. Enquanto você enxuga a baba que escorre por inveja, olhe novamente para trás e veja se o chefinho não está percebendo que você está fazendo nada! Aproveite para mexer na papelada que está na sua frente e faça cara de preocupado, assim dá pra disfarçar um pouco.

Além dessa mordomia incomparável que eles tem, ainda gozam de alguns prazeres estéticos ignorados por nós, trabalhadores. Não sei se já perceberam, mas como eles demoram para envelhecer! Lógico que não falo dos “camarões” que passam o dia inteiro na praia, torrando. Esses chegam aos 30 parecendo ter 60. Mas aqueles que “se cuidam” (essa é boa, vagabundo que se cuida), não adquirem rugas, marcas de expressão, calvície (a menos que ela seja hereditária) ou problemas nas cordas vocais, muito comum aos meus queridos professores, e colegas de trabalho hoje em dia, da faculdade. Podem notar, eles falam de uma forma tão lenta que dá até sono. Gírias da moda? Nunca! Eles tem o próprio dialeto oficial, e quem não for dessa tribo, não entende bulhufas do que é dito. Eles vivem, sem sombra de dúvidas alguma, em perfeita sincronia com a paz.

“Café na cama, eu gosto, com suco de laranja”. Juro a vocês, tá começando a me dar raiva escutar essa música. Oras! Já sabemos que eles não fazem nada da vida e só vivem de papo para o ar enquanto “queimamos os cílios” tentando trabalhar na frente dessa máquina maldita. E ainda passam na nossa cara que eles não estão nem um pouco preocupados. Quero mais é que se danem agora! Para mim já deu aqui até porque preciso trabalhar para sustentar os meus vícios. Até breve a todos e boa semana de labuta. Aos vagabundos: VÃO PROCURAR O QUE FAZER! Oras!

Para quem interessou sobre a música, aí está o link para o youtube:

http://www.youtube.com/watch?v=_ABayDmg3CI