Desejar é preciso

“Haverá paradeiro para o nosso desejo, dentro ou fora de nós?”

Não. Talvez essa seja a única resposta possível à angústia, tão humana, de Arnaldo Antunes, no verso acima. Porque o desejo se afirma numa sede e numa fome infinitas de impossibilidades que se multiplicam e que não conseguimos deter. Poderíamos enumerar aqui desejos que se apresentam em nossa rotina com certa objetividade e, muitas vezes, com certa futilidade, como a roupa que gostaríamos de usar, o emprego que sonhamos alcançar, o presente que nos esforçamos para dar aos nossos filhos, a festa que decidimos organizar... Mas isso ainda não é exatamente desejar. O desejo do qual queremos falar aqui é aquele que nos faz encarar a nós mesmos e partir na direção do outro. Estamos a falar do desejo que fez Diadorim e Riobaldo sucumbirem na impossibilidade do amor, em GRANDE SERTÃO: VEREDAS; falamos do desejo ameaçado, proibido e incontido de TRISTÃO E ISOLDA; falamos ainda do desejo de luiz, hugo, fabiana,mauro, adriana, patrícia,ellis, vanderson, silvério, de todos nós. Aquele que torna a vida mais adorável, mais encantadora, mais colorida. Aquele que nos move para o mais, para o excesso, para o devir. Desejar pode significar a fuga da mais dura realidade para o abrigo saudável do sonho, do insustentável, do intraduzível que habita em nós. E o que nos resta é viver cada dia como se estivéssemos soprando a vela do bolo de nosso aniversário, fechando os olhos, tomando coragem e desejando. Acreditar que o sopro de vida que apaga a vela poderá realizar nossos desejos... todos, até mesmo os mais secretos.

Adriana Bittencourt Guedes
Enviado por Adriana Bittencourt Guedes em 17/09/2007
Código do texto: T656442