E todo amor tem seu fim...

Começar um texto logo após pensar no título, e que título, não é muito meu estilo, eu rabisco 30 vezes antes de saber se gostei... Só que convenhamos, esse texto deveria apenas ter um fim.

Todo amor começa quando duas pessoas se conhecem, se suportam, são apoio, são companheiras, e depois que toda a fase de paixão passa, elas ainda querem ficar juntas.

Só que quando é que um amor acaba? Se é que acaba...

Dizem que amor de verdade não tem fim, que é eterno, que ultrapassa sentidos, momentos e dimensões.

Não sei se concordo, se discordo. Porém, lidar com pessoas nos mostra, libera, compartilha, outros pontos de vistas e outras experiências que talvez jamais teria.

Seu Getúlio tem seus 87 anos e está viúvo há apenas um, sua filha contou que depois que sua esposa Geraldina se foi ele nunca mais foi o mesmo. Seu Getúlio tem uma coleção imensa de apontadores de diversos modelos, em quadros feitos para isso. Dona Geraldina costumava colecionar corujas, até da China, tem tantas pela casa ainda, que a presença dela se faz constante. O luto de seu Getúlio urge, pede socorro, pede conversa, pede amparo. Sua família o acolhe, acompanha e é companhia de verdade, estão sempre com ele, difícil é seu Getúlio estar com eles. Seu Getúlio sobrevive sem seu amor, mas não vive mais. Seu amor teve um fim. Seja lá qual for a crença, se eles vão se unir no céu ou numa cidade astral; mas o amor teve um fim, ainda que temporário. Obrigatório. Inescapável.

Sebastião é alto astral, transmite boas energias. Sua esposa Geni faz os mimos possíveis para ele. Seu Sebastião também tem seus oitenta e tantos anos e apesar dos não poucos problemas de saúde tem vida, tem vitalidade pulsando dentro de si. O casal demonstra carinho um com o outro, amor mesmo. A gente vê. Ao questionar Dona Geni, com setenta e tantos anos, como eles conseguiram tem um casamento de tanto anos (acho que eram 60 anos juntos); ela respondeu que é fácil. Confusão se instala em nossa mente nesse momento, porque o que é fácil em relacionamentos? Os de poucos anos já são tão difíceis. Acho que a resposta, está aí. É amor. E o amor deles não teve fim.

Cláudia, 55 anos, está de luto há sete meses. E se algum dia, eu senti alguém falar de amor, foi quando conversamos. As palavras dela soavam sentimento, ela não derramou nem sequer uma lágrima, já não posso falar a mesma coisa das minhas que jorraram. Ela estava junto com Carla há 22 anos. Eu não consigo imaginar tudo que elas passaram durante todo esse tempo, toda a luta. Cláudia ainda tem saúde, pouco comprometida talvez, mas está se preocupando em melhorar, e isso só me dá vontade de ajudar de todas as formas que eu puder. Ela me contou a história delas, de como foi a morte, de estarem juntas até nesse momento. Eu que não sou de me emocionar com a Morte, porque eu acho que ela existe e temos que conviver, na maior parte do tempo nos damos bem. Afinal, qual forma seria mais gentil e amorosa do que a futura viúva do lado, fone de ouvido com as músicas favoritas? Até uma UTI se torna lar. E foi assim o fim, de um dos amores mais lindos que eu vi na vida.

E sabe, às vezes a gente está com alguém que não quer estar de verdade, e impede que essa pessoa encontre alguém que fosse dar o valor que ela merece, o amor que ela merece. Outras vezes, a gente se esbarra cedo com o verdadeiro amor... Não um amor de filme, um romance adolescente, mas um amor real. Um amor que enfrenta as barreias, que sobrevive distâncias. E quem sabe não são essas distâncias dimensionais também suportadas?

Talvez um dia a gente descubra, mas a verdade, é que amor não tem fim.