MENINICE

MENINICE

Vez por outra baixa a meninice, lembranças de seus sabores, com e sem som associados, aromas e formas, e lá vem o plac-plac do biju na grande lata em forma de cilindro, a buzina qual a do Chacrinha, anunciando o pão doce fresquinho, a bandeja do quebra-queixo com cheiro adocicado, o pirulito em forma de cone, o puxa-puxa, tudo dando água na boca. De barriga cheia afloram as brincadeiras, o taco, o gol caixote, o espeto, o pião, a pipa, a bolinha de gude e o inevitável rapa. Agora, sentado nos 68 anos, as ruas estão cheias de coisas que não deixam saudade. As brincadeiras estão sentadas e trancadas entre quatro paredes, bastando apertar botões para criar ilusões que nunca terminam e abduzir amigos que nunca aparecem, mas parecem estar sempre presentes. Os sabores multiplicaram-se, dividindo tanto o paladar que é quase impossível guardar lembranças.

Súbito, aparece o retrato em preto e branco do lambe-lambe e o som do realejo na praça; o periquitinho tira o papelzinho da sorte, que diz

“ bom ter sido criança com os pés no chão e cabeça no mundo da lua”.

Arnaldo Ferreira
Enviado por Arnaldo Ferreira em 09/02/2019
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