Amizades

Há algum tempo venho refletindo muito sobre as amizades. Ontem, encontrei um texto do Baron de Montesquieu, Amizade sem sinceridade, que li e reli várias vezes.

Em parte concordo com o que ele escreve, mas por outro lado, penso que nem sempre a amizade não seja sincera, implicitamente. Pode passar despercebido, esse fato, pela ingenuidade talvez, dos partícipes da mesma.

Tive sempre uma postura não fechada, mas um tanto recatada diria, quanto à intimidade de minha vida. Quero dizer vida familiar, vida não social. Preservo-me de invasões. Pessoas que se aproximam com a intenção de se tornarem amigas, devem ter uma certa discrição, terem paciência até que eu abra e faça o convite, ainda que não formal.

É uma questão de fineza, de sutileza de sentimentos. Penso que assim devam ser as relações. Podemos até conhecer determinadas pessoas desde muito tempo, no entanto elas não pertencem ao nosso círculo mais íntimo. Por razões e circunstâncias que acontecem, a proximidade pode aumentar e possibilitar uma amizade mais intensa. Porém, é necessário ter sensibilidade para perceber o limite que um e outro colocam.

Quando me sinto invadida, fico arrisca, afio as unhas, me assusto. Fica arredia. Por experiências anteriores, sei que toda invasão acaba mal. Desgasta. Limites são necessários.

As pessoas que se aproximam com rapidez demais, com avidez excessiva, vêm mais pela curiosidade, do que pela amizade. Tentam escancarar nossas portas, adivinhar o que possa estar escondido. Tentam adivinhar segredos que nem possuímos. Tornam-se desagradáveis, impõem sua presença, exigem atenção, que nem sempre estamos dispostos e em condições de oferecer. Dão conselhos em assuntos que sequer nos interessam.

Também por experiências anteriores, percebi que essas pessoas, na verdade, procuram um modelo. Avidamente. Carecem de parâmetros, identificam-se com alguma particularidade da pessoa que “adotam” e passam a assediá-la, sem terem tal intenção, conscientemente. Consideram que devemos nos sentir honradas pela escolha.

Ainda por experiência própria, sei que quando nós atingimos o limite da tolerância, visto que com sutileza não conseguimos impor um freio à amizade invasiva, acabamos por assumir atitudes mais drásticas, se não antipáticas. Para mantermos nossa integridade emocional, muitas vezes, torna-se necessário cortar relações, nos afastarmos totalmente de tais pessoas.

Ainda que convivamos diariamente com algumas pessoas, seja no trabalho, seja em sociedade, não significa que tenhamos uma grande amizade com elas. Podemos conviver durante boa parte de nossas vidas e não termos nenhuma afinidade. É necessário respeitarmos o espaço de cada um, as diferenças. Em nome da fraternidade, tão apregoada. Fraternidade não é exigir abraços e beijos intermináveis, de todos que se aproximam de nós. Não sabemos que dramas e complexos podem estar abrigados no outro.

Amizade se conquista, aos poucos, passo a passo. Com cuidado. Semente que se joga ao solo, irriga e esperamos que germine, cresça, se fortaleça, sem imposições e cobranças.

18/09/2007