CRÔNICA 5: "RENÚNCIA"

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RENÚNCIA

(Ao meu irmão Waltinho)

RENÙNCIA é o dever que temos que cumprir por todo o percurso para que se possa continuar lúcido. É pausa para respirar, analisar, para renovar forças, e continuar trocando de pele para que o novo sobreviva. Soa também como bálsamo as dores do abandono. E difere do cotidiano, por ser este a tarefa que levamos a casa para acertar os rumos de nossas conveniências.

É um desapego que rola ribanceira abaixo. Mergulhar efêmero de um prazer que dura pouco.

A renúncia é a operária das lembranças. É a fonte dos discernimentos e significados.

Tudo passa sem nos darmos conta do crepúsculo. Tudo sempre é tão rápido, que no meu caso, não senti o passar dos dezembros octogenários da minha vida, antítese do reflexo atual de um espelho que deforma. Como vê, os ventos uivaram, correram tanto, que só agora me dei conta disto.

De intacto mesmo, só as recordações que ainda pulsam, e me levam de volta ao sorriso que forjaram as rugas que marcaram o canto da minha boca.

As vezes finjo-me incrédulo diante do reflexo que dimensiona o tempo, e que revela a mudança das estações.

Entretanto, mesmo assim, fico feliz por ter suspirado aqueles horizontes risonhos que fizeram o menino que mora dentro mim.

No mais é muito bom saber-se inteiro apesar de tudo.

Agora, quanto ao presente, (viver só dele) tomo os meus percalços. Para minha saúde, faço a memória assemelhar-se ao bondinho do “Pão de Açúcar” no seu vai-e-vem de teleférico, deslocando-se ao bel prazer da minha própria precisão. Pois sob os fios da vida, faço com que a memória esteja a serviço do sorriso que acende lembranças além do abismo das estações.

E assim:

Dou RÉ quando quero. AVANÇO quando me dá na “telha”!

O presente é importante, mas circunstancial; dura menos que um”sorvete”.

PS:

Se tivesse de voltar no tempo, descartaria (como sempre fiz), ampulhetas, e calendários.

Niterói (Pendotiba), em 07.02.019.

Ronaldo Trigueiros Lima

RONALDO TRIGUEIROS LIMA
Enviado por RONALDO TRIGUEIROS LIMA em 02/03/2019
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