Memórias saudosas de um menino

Era dos que se banhavam no mundo real como os poetas, vislumbrando a evolução das palavras como o cume para à progressão humana e divina. progressão do amor e de todos os outros corpos possíveis de modificação, do sentir. sonhava muitas coisas que já não mais são lembradas. voava sempre todas as manhãs com crianças. eram manhãs que choviam coloridas formulas de vida sob o querer perdido. as manhãs davam as chaves da porta ao tempo que não para, não corre nem marginaliza. era como pássaro, águia dos olhos negros a sobrevoar os mais perfeitos desejos. era criador do próprio tempo, do mundo. nele não havia encanto do impossível. mundo dotado apenas de oportunidades, alegrias e amores reais. todos buscavam com o coração Ser... Mas, aquele menino, do rosto sensível, do riso singelo, pequeno balão de zepelim, criador dum mundo só seu, adormeceu enfeitiçado pela realidade preta que o universo possuía. hoje, sentado sobre uma pedra vendo o pôr do sol por trás de um mandacaru, ele nem chora nem ri e quando ri é por ter sido tomado por um passageiro vento de secura desregrada no peito, alguns chamam de desilusão, outros comentam ser apenas mágoa. ninguém sabia o que era. o Arco de uma chuva deixou a ele todo banhado do sentimento da introspectiva seca em seus sertões. há apenas um engasgo a ferir o cinzento olhar de quem já viu no sertão o verde ser esperança e juventude. não havia uma urbana dor, nem concretos posto de artificiais plantações. sentado em frente aos pés de um sonho, adormeceu no colo da verde esperança de acordar noutros sertões, noutros colos poéticos, novas águas no riacho, um paraíso onde todos os sonhos lembrados sem o peso de um espinho de quipá.

Alisson Vital
Enviado por Alisson Vital em 02/03/2019
Reeditado em 07/04/2019
Código do texto: T6588221
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