A minha Mãe, que Deus já lá tem, teve 11 filhos, porém só oito sobrevivemos! Eu sou o último da "ninhada"; Sete Homens e uma Mulher nascidos e criados na Aldeia de Caravelas de Mirandela (eu sempre menciono a minha Aldeia no Concelho de Mirandela porque o nome existe de forma genérica mundo afora e até  em outros Países - o Brasil por exemplo - mas voltemos ao tema). 
Dos Oito Homens que ela criou e conviveu todos vestimos a Farda do Exército Português. O meu Pai serviu em Lisboa no início do Século XX e nós os Sete Irmãos em outros quarteis,  incluindo um dos mais velhos  que foi 2 anos para a India. Três servimos em Angola incluso eu com os meus 42 meses em Angola onde já estavam 2 outros Irmãos. 
A pergunta que não quer calar é:  O quê o Estado Português nos deu em troca?  

(005)  - Ir às Sortes!... 
"a sorte protege os audazes" – este era o lema dos Comandos – uma Tropa de Elite que actuou com honra e dignidade ao serviço da Pátria. Todavia como e costuma dizer: no melhor pano cai a mancha e foram justamente alguns Comandos que desgraçaram a situação política em Portugal e no Ultramar depois de Abril de 1974 até 25 de Novembro de 1975.
(esta crônica extraída parcialmente do Meu Livro "Crônicas da Emigração"  é dedicada àqueles que se
esqueceram de ir às "sortes" depois do 25 de abril de 74).

--- Mirandela, Janeiro de 1957.... vinha um frio de rachar (os lábios, claro!) lá da encosta sul da serra de Bornes, ( a décima terceira mais alta do nosso querido Portugal) fazia  uns 7 ou 8 graus abaixo do zero!... Era ainda de noite,  mas os rapazes que faziam os 20 anos, se levantaram todos,   e lá se foram pelos 10 kms de pedras e giestas, estebas e urzes,  e arçãs que cobriam as bordas do caminho  gelado durante a madrugada, até à Vila para irem às "sortes"!  

Já era quase meio-dia e o chão ainda estava coberto de gelo, (ah quem dera um pouquinho daquele frio aqui nos trópicos" para variar), os pés escorregavam como a faca na  banha de porco em dia de verão, na hora da sesta! 
Épa! vê lá se t'aleijas que assim já não vais lá bater c'us costados!. (disse o rapaz do Ti João'zé).
A gente sabe lá p'ra onde esses cabrões nos vão "a mandar" depois das "sortes"!?.

Até parece que as coisas lá na Índia andam meio  complicadas. Tem lá  um tal d'um "gandulo"...
Não, não é gandulo, (disse o rapaz da Ti Julheta)  é GHANDI PÔ!... MAHATMA GHANDI  pô!? 

É, é, peis é esse mesmo. Dizem que ele já tirou de lá os ingleses e agora vai tirar os portugueses de Diu, de Damão e de Goa!  
É ? não
é lá que temos a India, páaa!  
Tirou-nos a todos de lá?!

Quer seja à pá ou à picareta, mas então aquilo não é nosso !?

Sei lá!... eu nem sou dos "Albuquerques". 
Nunca fui bom de história, e  essa do Vice Rei da Índia ser o Albuquerque... porquê, hein!? 
- Oh páaa ouvi isso ainda na semana passada lá na casa da Fidalga da Vilariça. 
Oh tu!... a tua Mãe não sabe disso não?
Ela trabalhou lá na casa da Fidalga páaaaa!
A minha Mãe só anda a chorar lá nos cantos da lareira porque ela acha que "lá vai mais um filho p'ra guerra"! 
... i uqué que s´ade fazêre!?...hein? hein?  

Esta   catramonzelada literária rolava na conversa pela ladeira abaixo, perto da Freixedinha enquanto os rapazes iam chegando à Vila de Mirandela para tirar a "sorte".

( o que é que era isto?! simplesmente era dar o nome para ser alistado no Exército)
Actualmente, tirar a "sorte" é mais prático, mais simpático, mais evoluído, mais culto, mais patriótico, mais português (no pós 25 de abril) nem mais mas, nem meio-mas;  
Os rapazes de hoje, tal qual um menino birrento apenas batem o pé no chão!... não quero ir à tropa, não quero, não quero e não quero, prontos! 
Não quero Pô ... iiii prontus eu vou mas é emigrar.  
Agora somos da European Economical Community, ou se preferirem na linguagem do Clemenceau - aquele que disse que "a vida é uma oportunidade de ousar"! 
Ora então diga-se; Communité Economique Européin (sic) e vamos  usar palavras de "sete e quinhentos para a nossa lingua " e dizermos simplesmente CEE... cê é é  caragooooo! 
E nós vamos lá a  fazer o tal do  "Recenseamento militar"! 
Tem que ser feito para todos maiores de 20 anos e pronto.
O homem de Belém assim falou e pronto. 
Isto porque afinal em janeiro pagam-se as "licenças" e nós portugueses todos pagávamos naquela época as "licenças" com a falta de liberdade. 
E ainda nos divertíamos com isso, cada um à sua maneira, claro!. 

Parece absurdo mas é assim e pronto!
Pagava-se a licença do isqueiro que (mais tarde) se tornou a piada predilecta dos Brasileiros, que acham que sabem mas não entendem o que são estes "sete e quinhentos" lá de Trás dos Montes!.
E depois de pagar por um lado o papel da licença, pelo outro lado (do português escrito)  entra-se de licença por 30 dias, também conhecido hoje na língua popular como férias! 
- (quem não gosta de Férias e de licenças, hein?).
Eu não!, eu não gosto de Férias e simplesmente detesto pagar licenças. 
Detesto pagar as licenças vulgo conhecidas como impostos,  e adoro férias, mas como não tenho dinheiro para pagar as licenças não posso ter férias!. 
Mas que merda de vida! 
E lá continuaram ladeira abaixo os Rapazes de Caravelas que iam às “sortes” em Mirandela.

Quando acabavam as "sortes" os rapazes voltavam  p'ra casa em clima de festa!.  Alguns por terem sido Emancebados e outros por se livrarem de ir para o Quartel.  Lá mesmo na saída da Vila já começavam a soltar os foguetes,  cantavam e dançavam com tudo e com todos. 
Azar do filho do Ti Luciano que quando o Pai foi a agarrar na cana do foguete, ainda correu pra largar no rojão mas perdeu 3 dedos logo ali na porta da taberna do Ti Orlando!
Ora que porra de sorte a minha! (dizia ele a chorar)   Fui apurado nas "sortes"   e agora o meu pai ficou aleijado?
Que merda de "sorte"  a minha, hein!?!

Este texto me surgiu logo que li a notícia aqui em baixo:

 "Polícia diplomática chamada ao Consulado de Portugal após altercações", etc e tal e coisa...
Foi assim  que eu me lembrei de vos escrever esta catramonzelada com alguma exclusividade personalizada, virtual e electro-magnéticamente transmitida via internet e com cópia via "intra-nesta" através do portal  do Portugal Club,   porém tenho algumas observações a fazer: 
 A - Então agora o "Sr. Guarda", o "Chui", o "cabeça de giz", aquele do capacete branco, o "home da farda", também é diplomado?! Naquele tempo um dos rapazes bateu c'os costados na Índia por dois anos e quando voltou recebeu um mero papel de licença para ir p'ra Guarda!..  Onde está o diploma da diplomacia usado pela policia diplomática?  

B - Coitado do candidato!,  foi ao "consulado" e acabou todo "desconsolado" - tinha lá um matarroano a dizer que ISTO AQUI É PORTUGAL!  EU SOU PORTUGUÊS - QUERO OS MEUS DIREITOS! - QUAIS!?
(já na porta do Consulado perguntamos: nós Emigrantes, rapazes das Aldeias de merda do Portugal de então,... mas que  "sorte" que tivémos, hein? )  e ele respondeu:
*EU TIVE A SORTE DE SER SIMPLESMENTE ELEITO DEPUTADO. 
*E NÃO QUERO CONFUSÃO COM NINGUÉM QUE SEJA DO PUTEDO POLÍTICO PORTUGUÊS (PRE)DOMINANTE!

 C) Coitado!... lá foi ELE a fazer o serviço aos Portugueses no "consulado" e acabou todo desconsolado porque, vamos e venhamos, o Português é complicado!
 -  Na hora que o homem estava à procura de levantar o "alter-ego" para se tornar auto-candidato A Deputado, fora do putedo,  ele encontrou LÁ no processo do emigrante, um pseudo funcionário público, não concursado nem aprovado nas "sortes" porque ele tinha ido "A Salto" era um verdadeiro Emigrante A SALTANTE.  
E  lá do Palácio das "Necessidades" em Lisboa havia apenas um redondo comunicado do governo com uma série de "alter-cações"!
-
Pô,  logo agora em plena campanha?!
- Estavamos lá tão bem a descer pela ladeira abaixo!  

As ladeiras na Suíça meu amigo!,  são muito piores do que  as da Serra de Bornes! Acredita se quiseres.
Post- scriptum!- eu podia escrever aqui só um minúsculo "p.s." mas comigo é assim!
NADA DE P.S. nem de P.T. nem de PêQêPês!...  É que quando se tem "sorte". A gente escreve só; Post- scriptum! 
E mais;   Oh Sr. Presidente do Club!...   é favor assinar o seu portal com letra de outra cor - nem que seja "a cor do burro a fugir", porque se assinar isto em vermelho outra vez... é falta de respeito! E na volta lhe damos uma catramonzelada que ficas a andar de lado c'umós de Caravelas de Mirandela.
O Sr está nos a mandar a todos à merda homem?! Se lembre que o seu amigo,  aqui signatário com a ponta do nariz do  rato, (imaginem que agora assinamos as cartas p'ra família, p'rós amigos, e até p'ra desconhecidos com a ponta do nariz do "rato", também conhecido por “mouse”)!

P.S.  – lembre-se; - se você leitor não tem "rato"  não se preocupe, Lá no Largo do Rato da “Lisbia” também todo mundo já assina em vermelho mesmo!... ou seja eles nos mandam a todos à merda diáriamente há muitos anos. 
Mas, mais uma vez! Claro!, mas isso fica para uma outra próxima "catramonzelada"!

 Nota do Autor: Alguns textos  meus aqui recolhidos via internet, são da responsabilidade dos seus remetentes, quando devidamente identificados.
De outra forma, reservamo-nos o direito universal da divulgação globalizada acessível a qualquer leitor.
Crônica extraída do meu Livro "Crônicas da Emigração" - Volume I de Catramonzeladas Literárias.  

 
Silvino Potêncio
Enviado por Silvino Potêncio em 22/03/2019
Reeditado em 02/03/2020
Código do texto: T6604413
Classificação de conteúdo: seguro
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