Vinte

Fiz vinte anos. Numa terça feira sem graça, nessa cidade que faz muito calor. Viajei para rever a minha família. Eles não moram longe daqui, uma hora e meia de carro, talvez menos. Mas evito ir até lá, sempre me sufoca, sempre volto me sentindo mal. Mesmo assim eu fui, era meu aniversário.

Fiz vinte anos, um ou outro amigo lembrou. E cada desejo de felicidade soou tão vazio, cada linha de mensagem parecia limpa, sem significado nenhum.

Fiz vinte anos e já me sinto beirando o fim. Mas eu ainda sou tão jovem! Ao menos é o que vivem dizendo e eu tento ouvir. Já aprendi que as coisas mudam, passam, sejam elas boas ou ruins. E parece que toda hora eu esqueço disso. Tenho quase certeza que estou beirando o fim.

Fiz vinte anos. Quando olho para trás, para os quinze, não me reconheço em aspecto nenhum. Quantos sonhos eu alimentava durante a noite… Por que agora não tenho nenhum? Acho que eles só viviam devido a minha cabeça de criança, respiravam da minha inocência, de que o mundo era fácil e bom.

Fiz vinte anos. Ainda sou tão jovem e pra tanta coisa, a idade já passou. Talvez se eu tivesse dado valor quando tinha, se eu tivesse feito um esforço para manter os laços, me encaixar em alguns moldes, sem tanta rebeldia, agora eu não me sentisse sozinho.

Fiz vinte anos. É bastante tempo. Mas se eu olhar ao redor, não encontro quase nada. E a frente, o vazio é ainda maior.

Fiz vinte anos, esse número me assusta tanto, tenho vontade de gritar. Vejo os dias passando como areia. Não importa quanto eu tente, é impossível segurar.

Fiz vinte anos e me sinto mais cansado que alguém de quarenta. Tenho o mesmo peso que alguém de quinze, cada dia um pouco menos. Uma hora ou outra a minha falta de fome me faz desaparecer. Visto o exato tamanho de alguém de dezesseis, mas por dentro, sinto o mesmo que alguém que já morreu.

Fiz vinte anos. Queria comemorar, mas não vejo o porquê