Pata Vina


 
Gale ão era um galo transgênero que viveu anos em um armário velho no paiol da fazenda. Suas tentativas de sair do armário eram dolorosamente frustradas pela pancadaria sofrida, apanhava mais que o burro da fazenda quando empacava com o lombo carregado de um peso desgraçado. Triste sina do Gale ão, vida sofrida. A bicharada reclamava porque ele não subia no celeiro pra cantar ao final da madrugada, e cobriam o coitado de pancada. Os que acordavam tarde não encontravam a ração necessária, a turma que madrugava com a ração acabava. Os esfomeados culpavam Gale ão e tome porrada, os de barriga cheia reclamavam porque muito rápido engordavam, o que os punha no topo da lista do abate, e tome porrada em Gale ão

Gale ão sabia que não resistiria por muito mais tempo ao tanto que era espancado, e fechado no armário chorava. Mas eis que um dia...

Nova aquisição chegou a fazenda, a porca Mal Vada. Porca de raça premiada, custou uma fortuna, mas o preço foi justo. Porca Mal Vada seria encarregada de parir ninhadas e ninhadas de porquinhos e porquinhas que seriam vendidos a peso de ouro, como de fato todos são até os dias de hoje. Mas...

Porca Mal Vada guardava consigo um segredo sob seus seis pares de tetas. Era uma porca madrinha, porca fada madrinha, e porca fada madrinha não faz e não admite porcarias, ao saber do drama vivido por Gale ão não grunhiu duas vezes. Rapidamente dirigiu seus 479 quilos em direção ao paiol, Gale ão estava no armário arrebentado pela surra daquela manhã.

Mal Vada já estava a par dos dramas do Gale ão, sabia que ele vivia no armário e que por isso apanhava todo dia. Mal Vada é uma porca madrinha mas não é vidente nem advinha, soube de tudo sobre Gale ão através da língua ferina vaca Ce Lina.

Mal Vada pegou o forcado no palheiro e chamou Gale ão para perto de si. Ao sair do armário Gale ão deu um grito danado, deu um salto que quase bateu a cabeça no travessão do paiol, voou pena pra todo lado, o coitado se assustou ao ver aquela porca enorme tendo na pata um forcado, pensou que seria todo furado. Mas o forcado na pata de Mal Vada já não era mero forcado, agora era a varinha mágica da Porca madrinha.

Quando Mal Vada saiu do paiol não saiu sozinha, em sua companhia estava a mais recente pata da fazenda, pata de lindas penas reluzentes, a Pata Vina, que graças a Mal Vada, sua Porca madrinha, pode enfim viver feliz radiante e contente, e eu não ficarei zangado se você não entender patavina desta crônica.
Yamãnu_1
Enviado por Yamãnu_1 em 25/03/2019
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