Liberdade?

Sala fechada, cortinas blackout puxadas, por causa do sol. Todos os dias, oito horas por dia. Duas horas de almoço, nem tanto para almoçar, mais para dar uma refrigerada na mente. Dez horas por dia, incluídas as duas do almoço (que não deixo de ficar preocupada em não perder a hora de voltar) dedicadas ao trabalho. Como diziam antigamente: na "repartição" da prefeitura. Hoje falamos departamento, setor, entre outros nomes.

Oito horas resolvendo questões, solucionando problemas alheios. Oito horas, dez pessoas numa mesma sala, incluindo as outras salas conjugadas, com outras dez pessoas cada uma. Um trabalho digno, honesto, que paga minhas contas e me proporciona alguns prazeres e conquistas. Um trabalho cobiçado por alguns, conquistado através de concurso público.

Mas fico me perguntando: por que esta ânsia de liberdade? De sentir cheiro de grama recém cortada, mato fresco? De subir numa montanha e sentir o vento lá de cima, de braços abertos, o vento passando por minhas axilas, roçando e envolvendo-me o corpo, como asas invisíveis, prontas para voar?

Dizem que somos livres, mas não somos. Liberdade não é somente não estar prisioneiro em uma cadeia. Todos somos presos, de uma maneira ou de outra. Prisioneiros da prestação do carro; da casa nova; da faculdade dos filhos; das contas de água, luz, internet, celular; das aparências.

Qual é a sua prisão?