ARMADO ?

Era já noite quando o carrinho verde sujo estacionou no posto de abastecimento.

No volante um senhor de cara séria, olhar quase que feroz.

No lado do passageiro uma mocinha adolescente, aparentemente diferente do pai que ali estava com ela a caminho da casa da sua mãe.

A jovenzinha mexia nos badulaques do pai e acaba abrindo o porta luvas, neste momento o frentista que perguntava sobre lavar o para brisa nota o velho trinta e oito Taurus e fica inquieto.

O condutor nota este detalhe e fica quieto, paga e sai com tranquilidade, no toca fitas ouve se Elton John cantando Nikita.

Depois de trafegar alguns minutos é notado a presença de uma viatura militar que faz um acompanhamento do pequeno e sujo carrinho que tem vidros brancos, sem película, sendo que os dianteiros estão abaixados.

A principio o senhor pensou que ao checar a placa os policiais o deixaria em paz, não aconteceu.

Na esquina seguinte outra viatura fechava o cerco, armas em punho e posição de combate, parecia que iam enfrentar o demônio em seu próprio domínio.

A tranquilidade de quem conduzia o pobre carrinho era quase irritante, coisa de quem é acostumado com a adversidade, acostumado com pelejas humanas.

Antes de tudo acenou com um olhar que fez a criança se abaixar entre seu banco e o painel do carro, desengatou e ergueu as mãos, deixando que o carro deslizasse até ouvir voz de parada.

Pensou que iria morrer ali mesmo, não aconteceu, se estivesse no rio e cercado pelo exercito já estaria devidamente fuzilado pela covardia verde oliva.

Pediram que saísse do carro e perguntaram quem era a criança mesmo antes de verificar se estava com a arma em seu corpo.

Revistaram e perguntara se tinha arma no veiculo, o que foi confirmado.

Algemara e revistaram o carro procurando mais alguma coisa, nesta hora alguém perguntou aonde ele havia conseguido a arma e por que nela se via algumas marcas.

Só nesta hora ele teve a oportunidade de falar que tinha comprado a arma, estava devidamente registrada e possuía um porte.

O policial que pela insígnia era um sargento olhou muito profundamente para ele, abaixou o olhar ao notar que aquilo olhava de forma que despia a sua própria alma.

Se lembrou então que devia identificar o cidadão, seus documentos, seu veiculo e seu histórico policial, se tinha realmente um porte de arma, se aquele "trabuco" estava em dia.

Tudo certo, porte de arma em dia, registro e autorização de trafego em dia, nesta hora o conselho tutelar ja se fazia presente, mas com um aceno a criança abandona os estranhos e abraça satisfeita o velho pai.

Uma ultima pergunta é feita, porque precisa da arma, ele em resposta aumenta o som do toca fitas que agora toca Roberto Carlos cantando detalhes.

E detalhes é que falta a nossa gloriosa policia se atinar, tão somente checasse a placa do carro, saberia quem é o dono, quem o conduz, o que faz, dispensando assim que um chamado de dono do posto deixasse tanto constrangimento.

Outro detalhe é que o comum é checar o indivíduo antes de algema-lo, mas glória DEUS, isso é de menos, costuma se peneirar o cara na bala antes mesmo de ver a cara dele!