Considerações sobre a Maturidade

Sempre ouvi que a vida passa muito rápido, e que a gente não se dá conta, e, quando vê o tempo se foi.

Nunca havia considerado que fosse verdade, afinal, há sempre o dia seguinte, o ano que vem, quando eu fizer tantos anos, principalmente quando se é jovem.

Mas a verdade que ser jovem é conjugar a humanidade no verbo do infinito.

Sim, pois quando olhamos para frente, o tempo não existe, o momento reclama tanta atenção, e, é tão vasto, que não percebemos que juventude não é verbo é qualidade.

Assim, quando pela primeira vez olhamos no espelho e vemos os cabelos brancos nascendo, sentimos uma dor nas costas, um cansaço que não estava lá antes, olhamos o calendário.

Com a inexorável prova da idade, lá vamos tentar mudar o imutável. As mulheres começam fazendo “luzes” para cobrir os cabelos brancos, passando por incontável número de cremes, até ao ápice da plástica. Os homens correm pra academia, mudam o visual e quando não vão ao cirurgião também.

Por que? O que foi perdemos que nos faz desprezar a maturidade – se é que perdemos algo? Não deveria ser assim mesmo?

Aos quarenta por que querer ter vinte, trinta? O que há de tão fúnebre, de tão assustador? A morte ou a vida?

A mim o que assustou não foi perceber que nunca seria astronauta, nem casaria com aquele astro de cinema, mas o fato de que estaria mais do meu tamanho, ou seja: do tamanho da minha alma.

Os meus desejos, não seriam mais tão instáveis, os objetivos tão glamurosos, nem os amores tão desesperados a ponto de sempre temer o abandono.

Percebi que os desejos continuam comigo, mas são constantes e podem ser deliciados com calma, como quem saboreia o mais doce bombom de cereja; que meus objetivos são únicos e concretos e não requerem angústia, mas trabalho contente; que minha capacidade e vontade para paixão estão aqui comigo, sem pressa, sem medo ou desespero, aprendi a amar sem temer a solidão, pois afinal hoje não temo a minha sombra.

Enfim, o tempo não passou, ele continua passando, e sendo medido com a mesma regra que trouxermos aos nossos passos.

Não renego a juventude, lembro de boas coisas, de grandes e pequenas emoções, sonhos e desilusões, mas não me apego a ela, afinal eu a vivi. E assim vivo a maturidade de hoje.

Toda essa reflexão, para fazer notar que eu também renasço com a entrada da primavera, nestes quentes dias de setembro, com os olhos bem abertos e o coração no ritmo dos meus passos.

A morte? Ela sempre este aí, desde o meu primeiro suspiro: a morte é uma parte muito pequena da vida, para que dela se tenha tanto medo.

Portanto, hoje iniciando a primavera nova, não estou melhor nem pior do que há vinte anos, mas ainda estou ciente de mim sob o céu estrelado e perfumado pelas flores.

Ainda vale a pena.