OS DISTRAÍDOS
Dizer que alguém anda distraído é uma forma carinhosa de se dizer que desleixou, mesmo que por instantes, de algo para o qual deveria ter dado importância e não deu.
Dizem que nenhum caduco esqueceu de onde escondeu seu dinheiro.
Tem gente que esquece da data do casamento, do aniversário da namorada, de pagar uma dívida: - amanheci distraído, tanta coisa na cabeça que nem lembrei.
Tem gente que anda na rua como se andasse no mundo da lua e tem gente que trabalha tão distraído que nem parece estar trabalhando.
Dia desses fui abordado, na sinaleira, por um vendedor:
- Vai levar uma flor, dotor?
- Quanto é?
- Tchau, bom fim de semana.
Mais interessante que um distraído são dois distraídos quando falam entre si.
Estava um casal numa tradicional casa noturna de Porto Alegre, cheios de planos para o futuro, e altamente enamorados, pois eram notórios os gestos apaixonados. Um pouco retirados, numa posição estratégica de quem não está a fim de ser incomodado, muitas historinhas risonhas sendo contadas e imunes as coisas mundanas. Podem estar certos, não se tem prova do que aconteceu, que a noite prometia, prometia. Planejavam uma festa para os amigos.
Distante alguns metros, um garçon acompanhava a movimentação e embora só se mexesse quando chamado, vinha de pronto.
Haviam acertado todos os detalhes para a realização de uma festa, faltava apenas o local e aquele onde estavam parecia ser ideal. A moça, com muita convicção do que queria, mas talvez distraída em demasia pelas mãos deslizantes do mancebo, chamou o garçon e nem se preocupou muito em dizer que queria o local para uma festa exclusiva, foi logo perguntando:
- Vocês fecham o bar?
O garçon não poderia ter sido mais óbvio:
- Sim, fechamos todas as noites.