“Somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos”

Essa frase hoje veio bem cedo à minha cabeça.

Acho esse livro: O Pequeno Princípe, fantástico, e pra quem acha que é só mais um livro infantil, se enganam e muito.

E é por isso que pergunto. Será que somos mesmo responsáveis por aquilo que cativamos? Ou só somos responsáveis quando nos interessa? Temos cultivado esse interesse? Ou só cativamos e nos esquecemos de regá-los?

Será que não estamos demasiadamente preocupados com nossos próprios umbigos? E nos considerando “pessoas sérias demais", e nos esquecemos que existe uma vida, um convívio, que só o TER não é importante? Que nesse caso de sermos humanos, gente, pessoas, criaturas feitas à imagem e semelhança do criador é mais importante SER?

“- Eu conheço um planeta onde há um sujeito vermelho, quase roxo. Nunca cheirou uma flor. Nunca olhou uma estrela. Nunca amou ninguém. Nunca fez outra coisa senão somas. E o dia todo repete como tu: "Eu sou um homem sério! Eu sou um homem sério!" e isso o faz inchar-se de orgulho. Mas ele não é um homem; é um cogumelo!”

( Parágrafo extraído de O Pequeno Príncipe)

Quantas vezes ficamos e fazemos as pessoas ficarem vermelhas, roxas de raiva, de mágoa, de ressentimentos, por atitudes que poderiam ser resolvidas tão simplesmente por nós? Não temos tempo pra cheirar uma “flor”, apreciar as companhias que nós mesmos escolhemos, nem de ver “estrelas”, essas mesmas que vivem ao nosso lado todos os dias e que não nos interessam mais, pois não cultivamos e assim fica difícil manter o amor por elas, por nós mesmos.

Hoje a desculpa do tempo é algo “desculpável”, e muitas vezes motivo de orgulho, temos deixado de sermos únicos, pra sermos números, quantidade, lucros, e ao contrário do que se imagina, vivendo estacionados, isolados, “venenosos”.

E por isso eu volto a perguntar. Será mesmo que “Somos eternamente responsáveis por aquilo que cativamos” ? Eterno é uma palavra forte, não? Responsável então, nem se fala. Estamos correndo de tudo que nos vincule a alguém, a alguma coisa.

Responsabilidade pesa,atrapalha, prende. E hoje em dia o lema tem sido “ liberdade”.

“Pude bem cedo conhecer melhor aquela flor.... aquela brotara um dia de um grão trazido não se sabe de onde, e o principezinho vigiara de perto o pequeno broto, tão diferente dos outros. ...No radioso esplendor da sua beleza é que ela queria aparecer. Ah! Sim. Era vaidosa. Sua misteriosa toalete, portanto, durara dias e dias. E eis que uma bela manhã, justamente à hora do sol nascer, havia-se, afinal, mostrado.”

( Parágrafo extraído de O Pequeno Príncipe)

É assim que apreendemos e nos apaixonamos pelas pessoas, é a surpresa e curiosidade pelo novo que nos fascina, mesmo que não gostemos de admitir isso. Assim como o principezinho nós também ficamos boquiabertos ao ir descobrindo alguém, alguma coisa, por menos interessante que a princípio nos pareça e é a diferença que faz a diferença, os detalhes, a cor, o tom, a voz, o carinho, a atenção, tudo que diferencie uma “flor” da outra.

Mas como não queremos perder a liberdade e nem sermos responsáveis por ninguém que cativamos, diga-se passagem que essa é uma responsabilidade, moral, emocional, começamos a achar sem graça, achar que está pouco.

“- não se deve nunca escutar as flores. Basta olhá-las, aspirar o perfume. A minha embalsamava o planeta, mas eu não me contentava com isso. A tal história das garras, que tanto me agastara, me devia ter enternecido...Não soube compreender coisa alguma! Devia tê-la julgado pelos atos, não pelas palavras. Ela me perfumava, me iluminava... Não devia jamais ter fugido. Devia ter-lhe adivinhado a ternura sob os seus pobres ardis. São tão contraditórias as flores! Mas eu era jovem demais para saber amar....

E, quando regou pela última vez a flor, e se dispunha a colocá-la sob a redoma, percebeu que estava com vontade de chorar.

- Adeus, disse ele à flor.

Mas a flor não respondeu.

- Adeus, repetiu ele.

A flor tossiu. Mas não era por causa do resfriado.

- Eu fui uma tola, disse por fim. Peço-te perdão. Trata de ser feliz.

A ausência de censuras o surpreendeu. Ficou parado, inteiramente sem jeito, com a redoma no ar. Não podia compreender essa calma doçura.

- É claro que eu te amo, disse-lhe a flor. Foi por minha culpa que não soubeste de nada. Isso não tem importância. Foste tão tolo quanto eu. Trata de ser feliz... Mas pode deixar em paz a redoma. Não preciso mais dela.

- Mas o vento...

- Não estou assim tão resfriada... O ar fresco da noite me fará bem. Eu sou uma flor.

- Mas os bichos...

- É preciso que eu suporte duas ou três larvas se quiser conhecer as borboletas. Dizem que são tão belas! Do contrário, quem virá visitar-me? Tu estarás longe... Quanto aos bichos grandes, não tenho medo deles. Eu tenho as minhas garras.

E ela mostrava ingenuamente seus quatro espinhos. Em seguida acrescentou:

- Não demores assim, que é exasperante. Tu decidiste partir. Vai-te embora!

Pois ela não queria que ele a visse chorar. Era uma flor muito orgulhosa...”

( Parágrafos extraídos de O Pequeno Príncipe)

E assim não preciso me estender mais “era jovem demais pra saber amar”....jovem de maturidade, não de idade, jovem demais pra entender que nossas “flores” só precisam de atenção e cuidados e que não é preciso sair para outros “planetas” pra dar valor ao que já vivemos....Talvez quando o principezinho voltar encontre a rosa à sua espera, mas talvez não...

Um abraço

llelle Martins
Enviado por llelle Martins em 23/09/2007
Reeditado em 30/03/2012
Código do texto: T665320
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