CARTA DE UM VAMPIRO AOS TERRÁQUEOS

Prezados seres humanos deste Planeta Terra. Escrevo esta mensagem para que parem com esta mania de caçarem Vampiros. Perda de tempo. Sei que poucos acreditam e eu mesmo costumo esquecer-me de minha imortalidade. Não fosse eu, esse ser condenado a não ter sentimentos, sentiria certa pena da falta de criatividade de alguns cineastas, que se atrevem a falar de mim. Alguns humanos chegam a acreditar que já me viram e até, pior, acreditam que em vidas passadas foram vítimas de um dos nossos. Ou, mesmo, heróis, acreditando terem morto um vampiro ou um lobisomem. Com aquela estaca de madeira atravessando o coração do vampiro sanguinário. Quantas casas infestadas por aquele cheiro insuportável das réstias de alho penduradas nas portas e janelas. Talvez haja mais cruzes espalhadas pelos caminhos onde deixo rastros de lobisomem que na profissão de fé católica. Como se elas pudessem espantar-me. Tudo na esperança de que eu não faça mais vítimas. Somos imortais. Entretanto, a humanidade ignara deveria saber que não saio matando por mera maldade. É a lei natural da sobrevivência. Eu preciso alimentar-me. Saciar minha a sede. Repor energias vitais. Reflitam! Os leões agem da mesma forma e são tratados como Reis da Selva. A fome os faz atacar outros animais. Matam-nos, satisfazem a fome e deitam-se nas savanas descansando. Nós, seres do Cão também agimos assim. De tempos em tempos a fome acorda-me e saio pela noite em busca de alimento. Sugiro lerem a Teoria da Evolução de Darwin, ao invés de ficarem assistindo filmes de Bela Lugosi e outros do gênero. Essa história de Luz Cheia, Sexta-Feira é pura bobagem. Invencionice de quem desconhece a realidade. Cabe, ainda, explicar que usar referencias temporais humanas, com seus vagarosos segundos é atraso de vida. Saibam os senhores que nós vampiros somos mais velozes que a luz, por isso a impressão de ver-nos em diversos lugares na mesma fração de segundo do relógio humano. Por mais devagar nos desloquemos, os primitivos e lentos olhos humanos acham estarem diante de onipresença. Por semelhante motivo não conseguem ver nossa imagem nos espelhos, embora fiquemos simplesmente ziguezagueando pelo espaço. Carece explicação porque não nos vê durante o dia. Somos seres de brilho intenso como as estrelas. Se surgíssemos no período do dia terrestre, ofuscaríamos a luz do Sol. Por isso, buscamos descansar durante o período do Sol. Qualquer lugar escuro como sepulturas ou porões. Os humanos não acreditam mas quando, muito casualmente, nos enxergam, ignoram que essa aparição deu-se já há algum tempo, conforme nossa capacidade de voar na velocidade da luz. Divirto-me diante de tal situação. Inúmeras vezes estou bem ali, morrendo (eu não disse isso) de rir dos esforços para me matarem. Ocorre muito de eu estar em algum castelo europeu brincando de esconde-esconde com um caçador de vampiros e, de repente, surge a Lua Cheia. Olho o calendário humano na parede e é Sexta-Feira. Vampiro sofre. Nessas ocasiões chego a invejar os humanos. Sexta-feira, hora em que vocês saem para o happy-hour, uma cervejinha, um bate-papo de contar vantagem, lá vou eu, na obrigação de incentivar crendices populares, fazer uma viagem intercontinental até a América Latina. Lá, especialmente no Brazil, é hora de eu aparecer em fantasia de Lobisomem. Nem é por causa do tempo de viagem. Coisa de 0,03 segundos. É que já estou um tanto quanto cansado dessa rotina. Às vezes, descuido-me e crio situações curiosas. Certa feita, na troca de vestimentas não pendurei a roupagem de vampiro direito. Deve ter sido frustrante para meu caçador ao ver um vampiro “morto” cair do teto sem a glória de tê-lo matado. Enquanto isso vestido de lobisomem, eu cumpria meus deveres uivando pelos quintais tropicais, assustando os tabaréus crédulos. Outra coisa que os humanos não compreendem é porque prefiro atacar virgens. Até o final do século vinte, eu nem ligava muito. Bastava o sangue fosse fresco, jovem. Mas, com o advento da AIDS tenho que tomar precauções. Inimaginável, depois de vencermos tantas batalhas para sermos os senhores do Mundo, sejamos destruídos por cruel moléstia. Sangue é nosso único alimento na Terra. Sei não, mas tenho esperança no Planeta Marte. Quem sabe seja Vermelho de Sangue. Só de imaginar, dá-me “sangue na boca”. Preciso recolher-me. A madrugada está acabando. No horizonte os primeiros clarões de Sol. Por favor, não confundam minha passagem com nenhum cometa. Já deu algumas confusões com o lerdo Halley. Agora tenho que ir. Voando. Preciso dar uma passadinha rápida na Transilvânia. Lá as pessoas acreditam mais em nós. Sou até amigo do Rei. É bom ser amigo do Rei Vlad. Desejo a todos um bom dia, porque posso estar faminto hoje à noite.

Pedro Galuchi
Enviado por Pedro Galuchi em 24/05/2019
Reeditado em 24/05/2019
Código do texto: T6655770
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