Quanto vale um papo furado

Nesta sexta feira, cumprido o ritual de molhar as plantas e rastelar as folhas, tomei um banho e fui até a lotérica cumprir outro ritual. Jogar uma merreca na loto fácil.. É merreca, mesmo. Jogando pouco, se perco não perco nada, se ganho uma coisinha fico feliz da vida. E lá ia eu, pela calçada passos lentos e uma cantiga no bico, sem a menor pressa. Passados uns minutinhos escuto a frase - Parabéns. Não imaginando que fosse comigo, segui em frente. E ouvi novamente a frase - Parabéns. Parei e olhei para de onde vinha a voz. Uma senhora, vestido longo, cabelos loiros, pintados e olhos vivos. Dei um bom dia e perguntei se o elogio era para mim. E, se era, por que?. E ela respondeu com sua voz clara e baixa - Porque o Sr. está empurrando sua bicicleta na calçada e não, pedalando, como a maioria faz. - É que calçadas foram feitas para caminhar e não para pedalar. E fomos caminhando e conversando. Ela me falando das viagens que já fez pelo mundo, que dos países que conheceu, do que menos gostou foi a França, pela arrogância e desrespeito deles com os estrangeiros. Fui obrigado a concordar com ela, não pela França, que nem conheço, mas por alguns franceses que conheci, embora, verdade seja dita, também conheci uns poucos que valeram a pena conhecer. E a senhorinha foi caminhando ao meu lado e falando, falando, até que parou em frente a uma farmácia e despediu-se. Despedi-me, também e fui caminhando para a padaria em frente. Passei o cadeado na bike e entrei. Pedi um suco de laranja gelado, sem açúcar, dois pães de queijo e um copo duplo com água gelada. Deu sede de tanto que falava a senhorinha.