Os meus brinquedos de menino

Eu fui um menino pobre que nunca tive um brinquedo de fábrica, um brinquedo importado ou coisa parecida. Os meus brinquedos eram um carro de pau ou um cavalo de talo que me deixava bastante alegre. Ao perder a minha mãe aos dois anos e ficar órfão de pai também senti que a minha vida ia ser bastante privada sobretudo da condição financeira. As minhas tias não tinham como me darem algo de grande valor porque eram pessoas de pouco poder aquisitivo. Quando eu completei oito anos a tia Ana Rosa me deu um carneiro do seu rebanho que eu o transformei no meu ginete de sela. Era montado no meu carneiro Cambraia que eu percorria toda nossa malhadinha antiga e me sentia tão feliz como se eu tivesse ganhado o melhor prêmio da minha vida. Cambraia era o amor da minha vida de menino pobre e órfão. Depois do meu ginete crescer o meu irmão Zacarias fez uma carrocinha de madeira que eu punha em Cambraia para ir buscar lenha nas croas do rio Jaguaribe ou em outros lugares. Com dez anos os meus brinquedos foram trocados pelos livros, e pelas boas leituras que a tia Marica me ensinava. O povo da minha terra admirava a minha vida de menino triste, entretanto estudioso. Anos depois a tia Ana Rosa vendeu o meu carneiro Cambraia que me servia muito de consolo nos meus momentos de tristura. Quando eu leio Menino de Engenho de José Lins do Rego, me vem a lembrança do meu carneiro Cambraia e dos meus humildes brinquedos, das pisas que eu levava do meu irmão porque eu trocava o meu carro de madeira por qualquer coisa má.

Poeta Agostinho
Enviado por Poeta Agostinho em 05/07/2019
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