Aos Arautos

Todo aquele que levanta ao Arauto

É certamente o portador da verdade.

Quem julgará?

As palavras que saírem de sua boca,

Essas mesmas serão por Juiz.

Fizeram um brinde! Os que se achavam deuses.

Ouviu-se então um estalo

Ao que se quebraram os seus copos

E cortados foram seus dedos

Cacos com sangue caíram ao chão

Sentiram cheiro de fumaça

Ao que uma nuvem envolveu o monte

Atrapalhou a festa

Torceram o nariz com o cheiro do enxofre

De onde viria aquele fogo?

Tudo isso enquanto cantarolavam:

-"Venham ao nosso monte!"

-"Cantaremos nossos feitos. "

-"Comeremos delicias"

-"Enalteceremos a nós mesmos."

-"Nossos títulos, nossas obras."

Gritavam:

-"Venham! Provem o mel das nossas línguas"

Das suas línguas d'ouro

Que gotejavam veneno.

Argumentos sobre argumentos

Retóricas sobre retóricas

Certezas sobre certezas

Achavam-se deuses, no entanto o silêncio lhes era um desconhecido

Esqueceram que o óbvio é um baú de verdades esquecidas.

Eram muito sabidos, os Arautos

Cantarolando verdades mentirosas

Repletas de mentiras verdadeiras.

Clamavam:

"Eu sou o meu mestre"

"Rei de mim mesmo"

"Não necessito doutrem"

"Meu é o prumo, o martelo"

"Eu sou, Eu posso, Eu faço"

"Eu, eu, eu"

E por guiarem seus próprios passos

Não viam que seus pés estavam em lugares tenebrosos

E as covas adiante lhes estavam ocultas

Zombavam dos que eram gado

Enquanto se diziam pastores

E de tanto falarem sobre pontes e travessias

Conseguiram atravessar por si mesmos

E não é que conseguiram mesmo, atravessar por si mesmos!

Mas lá chegando, tarde ou cedo demais

Assombraram-se, ao ver que lá ninguém havia,

Ninguém, além de si mesmo.

Desejando água, encontram areia

Querendo pasto, acharam palha

Certamente a humildade é um repouso.

E Nele não descansa os obstinados.

Os afoitos que em seus olhares de juiz.

Levantam-se como advogados

Tentam erguer o peso do justo prumo.

Quem os julgará dignos?

Como levantarão o martelo do Juiz, Meritíssimo?

Que quando desce sobre a tribuna

Desamparam os que se atem as ambiguidades

Deserdam os que destilam escárnio

E apaga as lembranças os que dantes eram.

Subiu ao monte a voz de um Justo

Subiu ao alto!

Subiu como fumaça das folhas secas jogadas em brasa

Que Levou a monte uma mensagem

Faziam um brinde os que se achavam deuses,

Quando quebraram-se os seus copos.

Fumaça rodeou a festa

Cheiro de enxofre envolveu o monte

Torceram o nariz, os Arautos.

Lá em baixo, com voz solene,

A voz do Homem era brasa viva.

A fumaça subia de suas narinas.

Quando alçou aquele justo estas palavras:

A verdade não necessita de argumentos,

Nem se apoia em coisa alguma!

No vosso brinde quebraram-se os seus copos

Percebem isso, e não o resto?

Olhem para acima obstinados!

Há um monte mais alto que o vosso.

Pronto para abrigar os que abandonam o orgulho

Os que abandonam as próprias forças

E repousam nas asas da Justo.

*Arauto

Aquele que, por meio de pregão, tornava pública uma notícia