"UNDÉ QUE EU PONHO ???"

"UNDÉ QUE EU PONHO???"

Todo final de mês a coisa se repete:Para tratar dos "cuidos" na cidade,vão-se chegando cidadãos dos mais distantes distritos e localidades do interior do município:

Itapará, Cadeadinho,Colonia Gonçalves Junior, Governador Ribas,Pirapó,Linha Iratinzinho,e por aí vai...

A maioria, por força do tipo de produtos comercializados no estabelecimento em que administro,e alguns,pasmem! Com saudades minhas rsrs...Para minha alegria,aportam já muito cedo na venda.

Ontem pela manhã,um pequeno grupo de velhinhos (ao qual eu me integrava,embora apenas como assuntante) falavam de crendices,visagens,boi-ta-tas,almas penadas e outras amenidades do gênero,sob a batuta de seu Vétio,o mais adulto da tchurma com seus 85 anos.

[ Este, um cidadão urbano.Domiciliado num endereço bem central da cidade ]

Rolava de tudo um pouco e levantara-se a conhecida história do "gritador" (ou bradadô,como o pessoal do interior costuma falar).

Segundo a lenda (há quem afirme realmente ter existido) tratava-se da alma penada de um certo alguém que enterrara um pote com moedas de ouro, e por conta disso ficara perdido nas trevas após a sua morte,gritando pela escuridão da noite e aterrorizando à quem lhe ouvia, no intuito de indicar o caminho , à quem lhe atendesse, para a retirada do tesouro e assim dando-lhe o "merecido" descanço

à sua alma atormentada.

O "bradadô" do relato do Vétio, porém, não havia enterrado ouro,mas costumava roubar terras de seus vizinhos mudando de lugar os marcos divisórios,sempre a seu favor,é claro.

Depois de morto passou a vagar pelas coxilhas a gritar com um vozeirão tétrico:

-"Undé que eu ponho??? Undé que eu ponho???"

Morrendo de medo, todos fechavam-se em suas casas,porém,um bêbado que andava vagando noite à dentro,ao ouvir a tétrica pergunta,foi logo respondendo:

-Ah ! (FDP) ,entroxe no mesmo buraco de onde você tirou, caiporento duma figa!!!

A partir de então , segundo o Vétio, silenciara-se o "bradadô" e os proprietários de terras pelas redondezas viram com alegria seus terrenos ganhando maiores extensões.

Entre risos frouxos, paieiros fumacentos, balinhas de banana,a conversa fluia.

Atrás do balcão,confortavelmente sentado numa banqueta eu só espiava.

Sorvendo um chasinho com beijos baianos.

Afinal ninguém é de ferro , né ?

E a manhã bolinada de sol, agigantava-se no topo da XV.